Se fosse uma Copa, os brasileiros já estariam levantando a taça. Afinal, quem mais consegue ouvir mensagem de WhatsApp em 2x, cancelar um Uber porque vai demorar mais de cinco minutos e ainda reclamar que o tempo está voando? Carol Tilkian explica isso no Café Filosófico “O amor ainda é possível na velocidade 5G?”. E, segundo ela, estamos tão focados no final da história que esquecemos de aproveitar o “durante”. É como se a gente só quisesse ver o trailer e já saber o desfecho, sem a paciência de curtir o filme todo.
Mas e aí? A vida é que tá correndo ou somos nós que apertamos o botão de acelerar? Numa pesquisa da Universidade de Cornell, colocaram eletrodos nas pessoas, tocaram uns barulhos e perguntaram: “Quanto tempo durou isso aí?”. O resultado? Quem estava com o coração disparado achava o barulho rápido. Já quem estava zen achava que durou mais. Ou seja, não é só o relógio que tá apressado, é o nosso coração também.
Carol diz que o problema é que não damos tempo para saborear as coisas, e isso nos deixa angustiados. Resultado: viramos workaholics, sofremos de burnout e, quando tentamos aliviar o peso, acabamos virando viciados em outras coisas – como esportes ou vida saudável. Nunca teve tanta gente correndo maratona ou postando foto de smoothie verde no Instagram. Mas será que é autocuidado ou só uma forma de fugir do vazio?
A angústia, claro, rende uma boa grana pra alguns. Dormir mal? Medicamento. Problema no relacionamento? Medicamento. E o nosso vício em tecnologia só piora. Passamos, em média, 9h30 por dia na internet. Isso dá uns 41 anos ao longo da vida. Basicamente, a gente tá vivendo mais no on-line do que no presencial.
Essa overdose digital afeta tudo, inclusive os relacionamentos. Hoje, preferimos as telas às pessoas e queremos que nossa vida seja tão bonita quanto nosso feed (mesmo sabendo que a vida nas telas é editada). No amor, buscamos alguém que cumpra uma lista de requisitos e, quando conseguimos, queremos controlar tudo: onde a pessoa tá, o que tá fazendo… Dúvida? Liberdade? Nem pensar!
A psicanalista Christiane Ganzo também fala disso no livro “A vida como ela é para cada um de nós”. Segundo ela, temos essa mania de achar que o que foi prometido ontem precisa valer pra sempre. Só que a vida não é assim: é movimento, mudança, transformação. Somos tipo um caleidoscópio, mudando a cada pequena virada. Somos permanentemente impermanentes e essa é a nossa beleza.
Carol conclui que uma boa relação não é a mais longa ou sem conflitos, mas aquela que tem respeito, diálogo e disposição pra enfrentar conflitos juntos. E o tempo, apesar de tudo, é nosso aliado. Precisamos aprender a dar tempo ao outro, ao amor e a nós mesmos. Menos pressa, mais degustação. Porque a vida é curta demais pra viver em 2x.
Referências:
- Café Filosófico - O amor ainda é possível na velocidade 5g? (Youtube)
- A Vida Como Ela É para Cada um de Nós. A busca do Eu-Caleidoscópio. Denise Aerts e Christiane Ganzo. (Amazon)
Todos os textos de Luis Felipe Nascimento estão AQUI.
Foto da Capa: Gerada por IA