Em 2017, li “Na Minha Pele” (Editora Objetiva) do ator, diretor, escritor, apresentador e ativista Lázaro Ramos. Um livro necessário para um tempo em que a diversidade segue ameaçada e a discriminação se impõe de um jeito cada vez mais cruel. Em 145 páginas, o autor compartilha, com sabedoria e simplicidade, experiências e percepções de um homem negro em um Brasil que insiste na supremacia do branco. É crítico, sensível, corajoso, bem-humorado e generoso. Coloca o dedo na ferida histórica, que ainda sangra, com firmeza, sem vitimização.
Agora, em 2025, um ano mundialmente tumultuado, Lázaro nos convoca para continuar a conversa em outro livro, “Na Nossa Pele: Continuando a Conversa” (Editora Objetiva), em que fala da mãe, da vida familiar, entrelaça fatos do cotidiano, reflete sobre o racismo, a vida de artista, de pai, entre outros temas fundamentais para uma sociedade que não abre mão do preconceito. Mais uma vez encontrei muitos pontos de conexão com a escrita dele, agora mais madura, com um olhar mais agudo e abrangente para o lugar que ocupamos no mundo. “Conversar educa”, diz ele. “E pode ser estratégico, mesmo na discordância.”
Sempre que rompemos com uma perspectiva preconceituosa, avançamos em direção ao respeito pelas diferenças, sejam elas quais forem. Empatia, tolerância, conhecimento e conversas francas são fundamentais para combater a violência, venha de onde vier. A relação olho no olho, com calma e segurança, é indispensável para quebrar barreiras e buscar o acolhimento necessário para seguirmos sem medo. Precisamos pensar sobre o que nos leva a penalizar aqueles que consideramos inferiores.
Uma pergunta de Lázaro no livro que acabei de ler me inquietou e estimulou – “Como silenciar quando o mundo insiste em ser bárbaro?”.
Por conta do nanismo, enfrento a discriminação cotidianamente. Percebo que as redes sociais insuflaram ainda mais as piadas de mau gosto, agora com requintes de uma crueldade debochada, porque as pessoas estão em busca de “likes”, não importa se para isso precisam desfazer da condição do outro. Um exemplo destas atitudes cruéis é o de um rapaz que, ao ver uma jovem com nanismo na calçada, pula por cima dela, alguém fotografa e fazem absurdos nas redes. Já me pegaram no colo na rua e em um evento, inesperadamente, como se eu fosse uma criança. Ou um pacote! São comportamentos que assustam! Quais são os valores de pessoas assim?
Mais uma vez, Lázaro é certeiro – “A gente anda muitas vezes com o queixo colado no peito, olhando para o celular, sem enxergar os lugares e as pessoas ao redor”. Reduzimos o mundo a uma tela que carregamos nas mãos e esquecemos de olhar ao redor.
Como romper com tantas atitudes e falas maldosas que tumultuam a vida de pessoas que têm uma diferença e que a sociedade não gostaria de ver onde estão? Esta conversa tem que continuar!
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Foto da Capa: Kixi Dalzotto / Divulgação