Sentados em cada sofá, acessando uma tela de vidro, feita de componentes, disponível entre a palma da mão e cinco dedos, da esfiha ao cacho de banana, à disposição em determinadas áreas geográficas, por 24 horas ao dia. Cena de cotidiano vivido, do Oiapoque ao Chuí!
Um corpo humano de idade média é capaz de gerar muitos resíduos de alimentos e de descartáveis. Segundo dados do Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2020, a geração saiu de 66,7 milhões de toneladas em 2010 para 79,1 milhões em 2019, uma diferença de 12,4 milhões de toneladas. O mesmo estudo diz ainda que cada brasileiro produz, em média, 379,2 kg de lixo por ano, o que corresponde a mais de 1 kg por dia. Em São Paulo, cada prédio habitacional tem em média dez andares, quatro apartamentos por andar, que por sua vez em determinada área acumulam cerca de quatro toneis por semana, que desaparecem dos olhos toda segunda.
Ir e vir é direito constitucional, isto significa que por algum motivo, em um determinado espaço e tempo, foi necessário prever expressamente que cada ser humano poderá e deverá deslocar-se em livre movimento sem ser impedido.
Cerca de 22,4 milhões de pessoas, em 2021, foram e voltaram dos centros principais deste nosso Brasil, através de meios de transportes públicos, todos eles motorizados, portanto, conduzidos por outros seres humanos.
Voltando àquela tela de vidro, em dados, porque gostamos das evidências, como você pode perceber, o Uber atingiu 30 milhões de usuários ativos em 2022.
De novo, cá estamos, no deslocamento. Um ir e vir livre, acompanhado.
Todo dia uma criança despede-se de sua mãe e uma mãe despede-se de sua criança, para que essa mãe diga bom dia para outra criança, uma criança que não tem seu sobrenome e que recebe os olhos e a atenção, o cuidado, horas, minutos, segundos doados para a sobrevivência de um outro, sendo que a criança que veio do seu útero nunca ouviu a música que fala de um o sol já nasceu lá na fazendinha ou que a roda do carro gira e gira. Parafraseando algo que li: você somente consegue ler este texto que escrevo, porque alguém cuidou tudo que você levava à boca.
Essa criança que recebe comida de outra mãe, também despediu-se da sua.
Somos uma sociedade refeita do conforto das ações de microempreendedores individuais que não têm descanso, porque o descanso não é dado, não se dá descanso para quem se governa, compete a ele decidir quando…. PARAR.
Parar era a única alternativa, em fatos históricos, para exigir o reconhecimento de intervenções em condições de trabalho inadequadas, para não dizer insuportáveis.
Quando, na revolução industrial, foi registrada a primeira paralisação de seres humanos por melhores condições, quantos já haviam morrido até a decisão de parar? Alguém apurou?
Jornadas de trabalho exaustivas, salários baixos, falta de segurança no trabalho e condições insalubres, era o que as placas descreviam.
Rutger Bregman, historiador holandês, discute o futuro do trabalho no livro “Utopia para Realistas” e circula pelas redes sociais vídeos com sua análise sobre duas greves específicas, motivadas, de um lado, por banqueiros que identificaram injusto o repasse dos juros sobre os investimentos e garis que se encontravam há décadas sem reajuste de sua remuneração.
Os banqueiros demoraram seis meses para retornar, Irlanda, 1700, mais de 85% da moeda não estava em circulação. Nova York, 1968, seis dias, e todos os direitos pretendidos foram reconhecidos.
1886, em Chicago, o pedido era uma redução da jornada de trabalho para oito horas diárias.
2000, movimento global pelos direitos das mulheres no local de trabalho, com a campanha #MeToo, mulheres, combatia o assédio sexual e a desigualdade de gênero.
1917, em São Paulo, um dos pedidos era uma redução da jornada de trabalho para oito horas diárias.
Greve é um instrumento jurídico, legalmente previsto como um direito concedido. É um dos mais poderosos e históricos direitos concedidos.
O Sebrae Minas tem um estudo indicando que a maioria dos microempreendedores individuais vivem uma rotina de muitas horas de trabalho sem perspectiva de folga. No sonho e no desejo da flexibilidade, da independência e da autonomia.
67% trabalham mais de oito horas por dia.
69% não costumam tirar férias.
E se formos para um recorte de gênero, aquele plus doméstico de sempre, não remunerado e nunca considerado, de cuidar da casa e da família.
No artigo, Desempenho dos Microempreendedores no Brasil, de Adriana Fontes e Valéria Pero, a partir dos dados da Pesquisa da Economia Informal e Urbana de 1997 e 2003, apontou que: “Quanto às variáveis de controle, ser do sexo masculino, chefe do domicílio, da cor branca/amarela e ter nascido em outro município têm efeitos positivos e significativos na renda dos microempreendedores. (…)”
Deu pra perceber quem está ganhando, novamente, o jogo da vida?
Vamos à etimologia.
Costus (latim), quantidade necessária a dar.
Qual a quantidade necessária a dar pelo teu, pelo meu e pelo nosso conforto, qual a quantidade de vida que você está disposto a pagar?
Foto da Capa: Amnesty International