Hoje vou contar uma história que carrega muitas outras histórias dentro dela. É sobre vinho, sobre vida, sobre arte e sobre propósito.
É sobre um casamento, uma reviravolta e o encontro entre uma adega e os traços de um artista.
Existem pessoas que têm medo das mudanças. E há outras que veem nelas possibilidades infinitas. Esse é o ponto de partida desta crônica.
Foi após o término de um ciclo de trabalho para um organismo internacional que Paula e Cveto Marsic sentiram que era hora de buscar um verdadeiro propósito de vida.
Com dois filhos, ela, psicóloga, e ele, artista plástico, deixaram a casa onde viviam em Portugal e decidiram revisitar seus países de origem para que os filhos conhecessem as culturas familiares.
A primeira parada foi na Eslovênia, país natal de Cveto, onde ficaram por dois anos. Depois, partiram para a Espanha, onde Paula nasceu e cresceu. Foi em León que decidiram viver e dar início ao projeto “Vinho Arte“.
Por que produzir vinho? “Porque a bebida está presente em todas as boas celebrações da vida há muitos e muitos anos”, ouvi eles dizerem um dia.
A região de León tem uma forte tradição vinícola, e foi “de mãos dadas” que trabalharam na recuperação dos vinhedos antigos, onde fica a casa da família e de onde hoje saem a matéria-prima para a produção de vinhos orgânicos e com fermentação espontânea. O local abriga também o estúdio de arte de Cveto e a adega que leva o nome de Petra Merino. É ali que, há sete anos, eles vivem a vida que escolheram viver.
Onde a criação do vinho se entrelaça com a criação artística e onde encontraram o propósito de vida que buscavam.
Além da qualidade dos vinhos, que já conquistaram duas premiações em concursos internacionais, há uma particularidade que faz este projeto ser ainda mais especial. Os rótulos das garrafas são peças de arte. Essa parte da história também vale a pena ser contada e é um dos meus detalhes preferidos.
Para a produção dos rótulos, é utilizado o pigmento “Negro de Viña”, que também dá nome ao vinho tinto da casa. O pigmento “Negro de Viña” ou “Nero di Vite”, em italiano, é produzido através da carbonização das folhas da videira, o que resulta em um pigmento preto-azulado. O mesmo pigmento que foi utilizado por artistas como Ticiano, Goya e El Greco serve como base das criações únicas e numeradas, assinadas por Cveto Marsic.
Como mencionei no início, essa é uma história de muitas histórias, e uma delas é a razão de eu estar contando-a para vocês. Essa também é uma história de amizade.
Foi em um dia comum, há alguns anos, que nossos caminhos se cruzaram — como costumam acontecer os encontros que realmente importam.
A amizade não veio de repente, foi chegando de mansinho. O carinho mútuo foi crescendo com naturalidade. Hoje, quando voltam a Cascais — onde mantêm uma pousada charmosa e acolhedora — é sempre motivo de reencontro, com brinde, é claro!
Histórias inspiradoras sempre merecem ser contadas. Tim tim!
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Foto da Capa: Paula e Cveto / Divulgação