Há uns dias, na beira da praia, depois da faixa de areia ser invadida por uma onda mais forte, reparamos num menininho de uns três anos de idade chorando com cara de assustado. Não foram precisos mais do que dois minutos para que as pessoas ao entorno batessem palmas, e os pais o localizassem. A lembrança do abraço dele na mãe ainda me deixa arrepiada e com o que costumo chamar de “quentinho no coração”.
Não houve heroísmo algum na atitude tomada em concordância tácita por aquele grupo de pessoas cujo ponto em comum naquela manhã era estarem aproveitando o mesmo ponto do então inóspito litoral norte do Rio Grande do Sul. As pessoas apenas fizeram o que, dita o bom senso, qualquer ser humano faria em situação semelhante. Naquele momento, eu me lembrei de que, quando quer, a humanidade sabe dar certo.
Quando tiramos os óculos do pessimismo e da má vontade conseguimos enxergar que nem tudo são flores murchas. Para cada pessoa que reclama dos preços cobrados por prestadores de serviços e nega um prato de comida à pessoa que contrata para limpar sua casa, há aquela que se preocupa em pagar um salário justo e não explorar a saúde e a boa vontade de quem trabalha para si. Se por um lado há defensores de que os recursos naturais estão aí para serem explorados mesmo ou que todos devemos andar armados, por outro, cresce a consciência de que preservação e sustentabilidade são mais do que palavras bonitas para constarem de documentos de intenções corporativas e que usar armas só causa mais mortes. E para compensar a hipocrisia dos “ativistas de teclado”, vemos muita gente se organizando para defender e ajudar de fato quem ou o que precisa de ajuda e defesa.
Agora, por exemplo, em Porto Alegre, o apreço por uma pessoa juntou um grupo enorme de profissionais de diferentes áreas para colaborar com a arrecadação de recursos para os cuidados de saúde de um dos jornalistas musicais gaúchos mais relevantes, o Paulo Moreira. Em seus mais de 40 anos de carreira, ele se dedicou à produção, redação e radiodifusão de conteúdos musicais e de cinema e ficou mais conhecido do público por produzir e apresentar por quase 20 anos o programa Sessão Jazz na rádio FM Cultura.
Para celebrá-lo, mais de 50 músicos subirão aos palcos de quatro casas de shows de Porto Alegre entre os dias 2 e 5 de março. O calorzinho no coração, neste caso, vem especialmente do fato de que a ideia cresceu naturalmente, com pessoas e instituições abraçando o projeto prontamente. O Festival Paulo Moreira tem uma fila de espera de profissionais que querem colaborar na próxima edição.
Os mais pessimistas dirão que estou citando exceções. Será mesmo? Acessando apenas um site – o Porvir, plataforma de conteúdos e mobilização sobre inovações educacionais do Brasil, que eu procuro sempre que estou me sentindo desanimada com o andar das coisas – podemos encontrar vários exemplos de que temos ainda muito por que ter esperança e no que nos inspirarmos.
Da próxima vez que ler uma notícia ruim e tiver vontade de sair correndo ou fazer um post dizendo “vem, cometa”, olhe ao redor e pense se é mesmo o caso. Da minha parte, a menos que seja um cometa seletivo, melhor deixar ele longe da nossa órbita.