“Bom dia! Quando chegarem no estacionamento, avisem que vou esperar vocês na saída do elevador.”
A mensagem no WhatsApp chegou quando ainda estávamos a caminho. Lá estava ela, com um sorriso no rosto. Entramos. Tocava uma música suave na pequena sala de espera.
Logo, pediram para minha irmã se trocar. Depois, vieram buscar meu sobrinho de três anos. Entraram todos, e eu fiquei ali, folheando um livro do Burle Marx.
Minutos depois, Gabriela voltou com os olhos marejados:
— Ele chorou um pouco, mas logo estava dormindo — falou.
Em seguida, veio a enfermeira. Explicou que ele já estava anestesiado e que o procedimento iria começar. Com muita calma, nos explicou tudo novamente, perguntou se precisávamos de mais alguma coisa, ofereceu café e voltou para o bloco cirúrgico.
Foram quase três horas de espera, mas a todo momento a mensagem “está tudo bem” apitava no celular. Logo após a última mensagem, avisando que o procedimento havia terminado, a enfermeira voltou e pediu que nos trocássemos — as duas. A tia também foi convidada a entrar, pois logo ele acordaria, e seria bom ver rostos familiares.
Entramos.
Não estávamos em um hospital, mas sim em um bloco cirúrgico de uma clínica. Era um procedimento simples, mas, devido à idade do paciente, foi necessária anestesia geral. Quando entrei, fiquei logo impressionada com a estrutura, mas nem foi isso que mais me chamou a atenção. Pouco a pouco, a equipe foi se aproximando, e logo percebi: eram todas mulheres. Éramos todas mulheres naquela sala de recuperação.
A mãe, a tia, a doutora, a anestesista, as enfermeiras, as auxiliares.
Enquanto esperávamos, conversamos sobre vários assuntos — e, de oito, passamos a muitas.
Fiquei ali observando aquele momento e, mais uma vez, tive a certeza do quanto somos múltiplas.
Naquela sala, éramos mães que amparam, tias que cuidam, profissionais que acolhem, mulheres que sentem e fazem.
Cada uma com sua bagagem, seus medos, sua força — e, ainda assim, disponíveis, inteiras, presentes.
Naquela sala, cabiam muitas mulheres. Porque em cada uma de nós habita um mundo. E, juntas, formamos um universo inteiro.
A nossa multiplicidade não cabe em contagem alguma. Somos tantas em uma só. E, juntas, somos ainda mais.
Matteo acordou — e, de repente, ali estava ele: “bendito o fruto” de todas as “Marias” presentes.
Todos os textos de Pat Storni estão AQUI.
Foto da Capa: Gerada por IA.