Eu de novo pessoal, mudando um pouco a batida da coluna, tá? Basicamente porque não resisto a um desafio e, quando fui provocada pela minha mentora literária Rejane Martins a escrever um pouco sobre a nossa entidade, a ODABÁ, que em yorubá significa empresário (a/e), como um raio passou pela minha cabeça essa expressão: “Que audácia!”
Sempre que penso na ODABÁ, sempre que vejo as críticas, as sugestões, as interações com nossa entidade, não consigo escapar dessa expressão: PURA AUDÁCIA. Vejam bem, uma entidade NÃO GOVERNAMENTAL que prega empoderamento econômico…bóh, capitalista… do Brasil Negro…emoticon de boquinha aberta, bóóóh…RANGER DE DENTES…
“Que que esses pretos tão pensando hein!? Os postes mijando nos cachorros!? Absurdo.”
É sério gente, somos avacalhados por todos os lados. Uns acham que podem nos usar, em meio a crises racistas nos chamam e querem compartilhar piscinas e áreas sociais, tipo Cabral sabe, espelhos e quinquilharias. Ah para, respeita nossa inteligência!
Outros nos chamam de abutres, de paraquedistas, de oportunistas, pretos metidos, esnobes, elitistas… sem contar o fogo amigo, no qual existe uma teoria conspiratória interna da “panelinha”: são sempre os mesmos mamando na teta da entidade (teta murcha, diga-se de passagem…emoticon com risinho e mão na boca). Ah, para! Mexe seu traseiro na cadeira, vem captar, vem construir, vem trabalhar pelo propósito e quem sabe assim enchemos essa teta para alimentar não apenas nós, mas o Brasil Negro. Porque Sueli Carneiro profetiza para quem quiser ouvir: “… só existe vitória negra se for coletiva.” A favela não venceu, um favelado ou outro comprou um carrão e é isso.
Segundo ouvi da boca da diva-musa-mestra-sábia e diretora de Filosofia Afro-brasileira da ODABÁ, Nina Fola: “A vida negra é de urgências”. Somos 67% dos desempregados em um país onde somos 56% da população. Os negros são responsáveis por 40% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional, segundo dados do estudo Faces do Racismo, realizado em 2022 pelo Instituto Locomotiva.
Desde a colonização somos objeto, animais de tração em uma economia pujante, injusta, violenta e racista. Nossos passos vêm de longe. Estamos sobre ombros dos gigantes do movimento negro nacional, desde a abolição com José Bonifácio, André Rebouças e outros, até os dias atuais com Abdias do Nascimento, Lélia Gonzales, Sueli Carneiro, Djamila Ribeiro, mas precisamos ir além, precisamos pegar o capital, manusear, criar intimidade, viver fora da linha da miséria. Conceição Evaristo disse esses dias no podcast do Mano Brown que a escrita é uma vingança, ela estar no salão nobre dos grandes escritores mineiros, ao lado de nomes de patroas cuja empregada doméstica era a mãe dela!
Ouça isso na voz doce de Conceição. Bóóóh…achei vingativa… e tem que ser mesmo (emoticon do diabinho com cara endemoniada)! A virada que os negros precisam agora é econômica, o mundo é capitalista, o capitalismo nos mata todos os dias. Não precisamos ser como eles, mas precisamos nos apropriar do capital. Eu tenho certeza de que conseguimos fazer isso sem perder a ternura, dentro de uma filosofia ubuntu, afrocentrada e potente, uma filosofia Conceição Evaristo: “…Venci e não derramei uma gota de sangue.”
Na mesma pesquisa citada acima, vemos uma intenção de consumo no país de 80% na fatia correspondente a mulheres, negros e classes C, D e E. ISSO É PODER NEGRO. Apesar do peso do Black Money (dinheiro que circula entre pessoas negras no mercado), nossos filhos continuam sendo assassinados. Um a cada 23 minutos. Nossos homens continuam recebendo “mata-leão”, seja em um hipermercado, seja num campo de futebol espanhol.
A ODABÁ nasce para responder a essas urgências, nascemos como uma resposta econômico-social às desigualdades raciais, nascemos para subverter o fluxo de recursos do mercado capitalista, estamos estruturados em quatro diretorias estratégicas (Executiva, Financeira, Jurídica e Marketing) e cinco diretorias operacionais (Filosofia, Identidade Afro, Expansão e Inovação, Redes e Eventos e Relacionamento). Nosso farol, nosso PMT (propósito transformador massivo) é o EMPODERAMENTO ECONÔMICO DO BRASIL NEGRO, nossa bússola (eixos) que guia a atuação são: qualificação empreendedora, valorização econômica da produção cultural negra e eliminação das crenças limitantes.
Não adianta se somar aos nossos gritos desesperados de “VIDAS NEGRAS IMPORTAM”, ir pra passeata, pintar as redes sociais com palavras de consternação, apoio e “gratiluzes” SEM QUE HAJA INVESTIMENTOS PESADOS NA ERRADICAÇÃO DO RACISMO.
Movimentamos 1,9 Trilhões de reais na economia e, somos 51% dos empreendedores do país. ISSO É PODER NEGRO. Porém ainda fazemos isso de forma mambembe, na necessidade, na urgência de pagar uma conta de água, de comprar um gás. Em 88% dos negócios, o negro é único responsável pela gestão financeira da empresa e apenas 54% dos empreendedores são formalizados.
A ODABÁ vem para gerar inteligência econômica racial e organizar cadeias produtivas negras para os grandes players, ISSO É PODER NEGRO! Qualificamos, damos suporte, ajudamos a atender exigências legais e até formalizamos negócios de afroempreendedores, vamos juntos desde a assinatura do contrato até a emissão da nota fiscal. Somos ponte para empreendedores negros darem o próximo passo em seus negócios. Nossos projetos têm por premissa básica: paguem muito bem nossos mais de 50 negócios associados e nos deem tempo para fazer o impacto que acreditamos para erradicar o racismo.
Somos plurais, porque negro não é tudo igual, não, acolhemos nossas dores, diferenças e necessidades. Brigamos, choramos, gritaria e dedo na cara, mas também celebramos nossas vitórias e dançamos num baile de luxo no Hilton e, por isso, entre outras coisas, somos chamados de paraquedistas e elitistas.
E o que eu, como CEO da entidade, tenho a dizer sobre o que falam da gente?
Obrigada, porque realmente estamos fazendo algo estranho nessas paragens e fazer o diferente me deixa orgulhosa, porque trará resultados diferentes e potentes, alinhados com a sociedade brasileira que eu quero deixar para o meu filho de 5 anos.
E, por último, mas não menos importante, recadinho aos haters:
#latequeestamospassando
#QueAudácia
#EuElististaPorémFunkeira