Semana passada, no simbólico 1º de maio, Dia do Trabalhador, tive a oportunidade de mediar a roda de conversa Interseccionalidade: construindo pontes, rompendo barreiras, junto a três talentosos profissionais – Glauco Figueiredo, Jorge Amaro e Noah Scheffel -, para promover o lançamento no Rio Grande do Sul do livro Diversidade e Inclusão e Suas Dimensões – Volume III, da Editora Labrador. Luciano Amato, coordenador da obra com prefácio de Ana Paula Padrão, reuniu – novamente – uma verdadeira seleção de pensadores e promotores de ações que transformam nossa sociedade cotidianamente.
Esse é o tipo de livro que me abraça. Uma publicação que traz conforto em tempos de discursos que tentam desacreditar ou esvaziar o longo trabalho de quem atua no campo da sustentabilidade social, ambiental e econômica. Tentam, mas não conseguem.
Importante lembrar que, há pelo menos dois anos, esse movimento que pretende enfraquecer conquistas históricas no campo da diversidade, equidade e inclusão ganhou visibilidade mundial com a decisão da Suprema Corte norte-americana de derrubar as cotas raciais como forma de ingresso nas universidades estadunidenses. Tomada por maioria conservadora – com 3 juízes indicados por Donald Trump em seu primeiro mandato na presidência dos EUA – a mais alta instância do poder judiciário mandou um sonoro recado do incômodo com a ascensão de negros e latinos no campo da intelectualidade.
O mesmo Trump, de volta à Casa Branca em 2025, é alvo de desaprovação por 55% da população local nos primeiros 100 dias de governo. O levantamento do Instituto Ipsos, divulgado pela rede de TV ABC News, em 27 de abril, registra o pior resultado nessa mensuração nos últimos 80 anos. Entre os respondentes, 59% se declaram republicanos ou independentes. Os democratas somaram 30%.
Ano passado, participei do Diversidade em Prática Summit, promovido pela consultoria Blend Edu, uma das mais conceituadas neste campo no Brasil. Uma das abordagens centrais do evento foi a continuidade ou não da temática Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI) nas empresas. O debate mostrou que a onda conservadora pode levar consigo algumas corporações que oscilam frente a modismos ou fatos políticos, mas não abala aquelas que têm convicção da consistência dessa pauta para sua manutenção no mercado. Um artigo divulgado recentemente no portal desta consultoria, com base no índice Standard & Pool’s 500, atesta que a agenda DEI vai persistir.
Recentemente, durante o Fórum de Sustentabilidade Amcham 2025, promovido pela Câmara Americana de Comércio para o Brasil, em 28 de abril, o britânico John Elkington, referência global em sustentabilidade corporativa, disse que “o movimento ESG passa por um choque”, frente às tensões geopolíticas, e que “as coisas vão passar por um período de turbulência, mas depois vão se estabilizar”. Há 50 anos atuando nesse campo, o britânico criador do conceito Triple Bottom Line, ou “tripé da sustentabilidade”, já testemunhou várias oscilações políticas e econômicas, e seu ponto de vista é respeitado por lideranças em todos os segmentos sociais.
Em sua fala, também destacou a necessidade de comprometimento permanente do setor empresarial, e isso vai além de relatórios socioambientais vistosos e outras ações de marketing. “Só que precisa ser um setor empresarial que não esteja apenas querendo ganhar prêmios ou liderar rankings e índices. É preciso que conselhos de administração e altos executivos de grandes empresas compreendam que isso não é apenas sobre responsabilidade, nem só sobre resiliência, embora isso vá se tornar cada vez mais importante. É sobre regeneração em um sentido amplo”, explica.
Como quem acompanha profissionalmente a pauta da sustentabilidade há mais de 20 anos – quando o “rótulo”, naquele momento, era RSE – Responsabilidade Social Empresarial e, hoje, é ESG – Environmental, Social and Governance (Ambiental, Social e Governança) – acredito em sua força e continuidade. Quem entra nesse movimento por entender ser uma “trend”, sucumbe ao primeiro grito conservador, seja de clientes, acionistas ou de um governo deslegitimador de políticas públicas de impacto social. Agora, quem tem foco e alicerça suas ações em uma missão, visão e valores realmente sustentáveis, não se abala. Persevera.
É por isso que me sinto abraçado pelo conjunto de artigos do livro que mencionei, pois nele estão 53 pessoas autoras – mulheres negras, pessoas trans, pessoas não-binárias, pessoas com deficiência, pessoas homoafetivas, homens negros, mulheres brancas e homens brancos – que dominam teoricamente e vivem diariamente o que escrevem. Como diz a canção “E vamos à luta”, de Gonzaguinha, “Eu acredito é na rapaziada, que segue em frente e segura o rojão. Eu levo fé é na fé da moçada, que não foge da fera e enfrenta o leão”. Essa rapaziada não se assusta com o ego de Trump nem com o discurso preconceituoso de uma “mulher branca, bonita e rica” acuada, como seus pares, por ver privilégios históricos ameaçados por vozes da diversidade.
E você? Que livro te abraçou recentemente?
Eduardo Borba é jornalista graduado pela PUCRS, pai, integrante de ações para promover a Diversidade, Equidade e Inclusão, como a Odabá - Associação de Afroempreendedorismo e a Comissão Antirracista do Colégio João XXIII. Mestre em Comunicação Social, é especialista em Direitos Humanos, Responsabilidade Social e Cidadania Global.
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