Tem um ditado, que não sei de onde vem, que diz: as pequenas tristezas falam, as grandes são mudas. Ultimamente tem sido desafiador acompanhar os rumos da história e o que acaba refletindo no nosso dia a dia. Para quem é jornalista ambiental, então, nem se fala. Marco temporal, governo Lula, Centrão, Guerra etc. Mas não vou tratar disso. Também porque de lamento o mundo está cheio. Vou focar em coisas que tenho procurado fazer para driblar os sentimentos pouco nobres que tem me afetado. Tenho caminhado em meio a natureza – a orla e nossos parques são ótimos para isso; visitado lugares que podem me nutrir e também voltei a cantar. Realmente, quem canta seus males espanta.
Mão na terra
Nessa semana, estive na Horta Comunitária da Lomba do Pinheiro e me deparei com voluntárias que cuidam do espaço. Elas ajudam na manutenção do lugar. Dão água para as plantas, fazem mudas, preparam embalagens de tetrapak para que virem vaso para o viveiro e muitas outras atividades.
E, ao conviver com as plantas, o ambiente, as pessoas, desfrutar do contato direto com a natureza, elas saem revigoradas. A horta atende principalmente a comunidade da região. É lá que o pessoal vai buscar um chá medicinal, um tempero, frutas, folhagens, plantas em geral. O lugar é um ponto de encontro de pessoas de vários cantos da cidade. Especialmente às terças, dia que tem um funcionário da prefeitura, muita gente visita o lugar. Nos últimos três meses foram cerca de 1.200 pessoas!
Conheci a Mônica Meira, uma professora universitária aposentada que é pau para toda obra na horta. E a satisfação que ela atende, cuida, trabalha é estimulante. Conheço muitas pessoas que sofrem de solidão, depressão, entre outros males da vida moderna, que poderiam se beneficiar na convivência com pessoas em lugares como esse. Clique aqui para conferir a entrevista com ela e a Lurdes, responsável pelo espaço.
Há outras hortas comunitárias em Porto Alegre. Já escrevi aqui sobre o Fórum de Hortas Urbanas de Porto Alegre. Fica essa dica para quem pode e deve se desligar das agruras da selva de concreto e das infinitas telas e seus algoritmos.
Caminhar é preciso
Não sei se repararam, as luzes do outono em Porto Alegre estão deixando as árvores, os espaços verdes mais bonitos. Tenho caminhado pela orla e a cada dia me deparo com situações insólitas envolvendo pássaros, pessoas, insetos. Nessa quinta mesmo, vi um bando de chopins e cardeais no trecho 2 (aquele que querem fazer um centro de convenções). Observar o vai e vem das garças, o alvoroço das caturritas e o movimento de embarcações no Guaíba têm me feito muito bem.
Acordes para a vida
Mas se tem uma coisa que está me fazendo uma baita diferença é ter voltado a cantar. A música faz parte da minha vida. Porém desde 2001, por questões de trabalho, de conjunturas da jornada, acabei parando. Desde março meu marido e eu temos participado de um coro que tem um repertório delicioso.
Amo estar em um coral por vários motivos. Cada naipe dá sua nota e a harmonia dos acordes faz que o som saia como se todos fossemos um só instrumento. A energia do grupo afinado e todos canalizando sua atenção para o maestro é pura magia. Não me importo de repetir várias vezes o mesmo trecho da música, até todos acertarem o compasso, a nota. Cantar é algo que todos deveriam experimentar.
Cantei em um coral infantil no Colégio Roque Gonçalves, em Cachoeira. Até hoje lembro das aventuras na viagem que cantamos numa missa televisionada. Depois participei do coro da Escola João Neves da Fontoura, mas foi algo breve, entoamos o hino da escola. Fiz magistério e tínhamos aula de música. Aula de música para crianças é tudo de bom.
Depois, ao entrar na faculdade, mais precisamente na Escola Superior de Belas Artes Santa Cecília, participei do coro mais divertido da minha vida. Gente, gente, gritava um dos tenores, me imitando. No Coral da Univale fui tesoureira e ajudei a juntar dinheiro para viajarmos à Argentina. Que viagem! Eu tinha 18 anos e a maior parte da turma tinha ao redor disso! Ah, que maravilha foi aquela trupe liderada pela maestrina Marucia Castagnino. Até hoje quando alguns colegas daquele tempo se encontram, lembram das histórias que passamos.
Vim para Porto Alegre com 19 anos e logo consegui um coral para cantar. Fui parar no Coral da Olvebra. Nem me lembro como cheguei lá. Fiz o teste e passei. Era uma oportunidade incrível, ensaiar com o Antônio Carlos Borges Cunha. Naquele tempo, estar no Olvebra significava muito. Ganhava ticket refeição e algum cachê a cada apresentação. Tínhamos um uniforme com uma saia lisa bancado pela empresa. E aí conheci muita gente legal. No final da faculdade, ainda cantei no coral da Associação Cultural de São Leopoldo. Ia todo sábado, de ônibus, da Real (naquela época não existia o Trensurb).
Boa parte dos integrantes foi para o coral da AABB, regido pelo Tiago Flores. Excelente experiência. Até hoje tenho amigos desse grupo. Fiquei até a pressão do meu chefe de reportagem me intimar: quer ser cantora ou repórter? Isso porque pedia para ir embora para chegar no horário do ensaio. No final, o jornalismo acabou me ganhando.
Uma das experiências mais enriquecedoras da minha vida foi ter estudado na International People’s College, uma escola livre em Elsingor, Dinamarca. No outono europeu de 1996, cantei num coro – até fui solista, junto com uma sul-africana. Tinha gente de várias partes do mundo e cantar músicas em vários idiomas foi simplesmente divino. Na foto (abaixo), estou à frente de baiana, porque todos estavam com roupas típicas do seu país. Como eu não tinha, improvisei com uma blusa de turbante, muitos colares e uma indumentária que a escola dispunha.
Não me lembro bem, mas acho que por 1999 ou 2000, voltei a cantar no Madrigal do Departamento de Música da UFRGS, que tinha ensaios ao meio-dia. O maestro Vilson Gavaldão era o máximo. O pessoal cantou no meu casamento, em dezembro de 2000. Depois disso, veio a grande pausa.
Fui morar em Brasília, tive filho, muito trabalho etc. Eis que este ano, falei com a colega de AABB Cíntia de Los Santos, que é preparadora vocal do Viva La Vida. E agora estou lá, junto com o marido. Tudo isso para convidar você para assistir ao nosso primeiro espetáculo junto com o coro.
Nesta segunda, dia 12 de junho, Dia dos Namorados, às 20h, será realizado o concerto “Viva La Vida e grupo vocal Quarta Voz: cantam músicas de amor”. O evento será no Salão Nobre da UFCSPA (Rua Sarmento Leite, 245) e tem entrada franca. Se estiver em Porto Alegre, vá! Tenho certeza de que não vai te arrepender!
Sob a regência de Eduardo Alves, 37 cantores integram o Viva La Vida. Seu repertório é principalmente MPB. O outro grupo a se apresentar é o Quarta Voz. Um grupo vocal à capella, quatro vozes ao estilo “barbershop”, formato difundido nos Estados Unidos, Canadá e Europa, ainda pouco conhecido do público brasileiro.
E aí, bora?
Confira só o programa:
Quarta Voz
Paz e amor1. Trevo – Anavitória
Thousand Years – Christina Perri
Perfect – Ed Sheeran
I’ll be there – The Jackson 5
Cores do vento (Pocahontas) – Alan Menken e Stephen Schwartz
Only you – Buck Ram e Ande Rand
Viva La Vida
Un vestido y um amor – Fito Páez – Arranjo Eduardo Alves
Manhã de Carnaval – Luis Bonfá e Antonio Maria – Arranjo Zeca Rodrigues
Apenas mais uma de amor – Lulu Santos – Arranjo Eduardo Alves
Minha namorada – Carlos Lyra e Vinicius de Moraes – Arranjo Damiano Cozzella
Daqui só se leva o amor – Rogério Flausino – Arranjo Eduardo Alves
Paz e Amor – Nenhum de Nós – Arranjo Eduardo Alves
Foto da Capa: Coral Viva la Vida – Reprodução do Youtube