Manhã ensolarada como serão todas as manhãs até o fim de setembro, começo de outubro, neste domingo – 25 de maio – aqui em Brasília. É tempo de seca no cerrado.
Abro os jornais, na tela do notebook, claro, que já nenhum dos grandes diários de outras cidades circula em papel aqui na capital, e busco nos nossos grandes cronistas inspiração para juntar humor, ironia e seriedade numa crônica sobre a vida cotidiana neste país.
Quero ser esperançoso, sem ser simplório. Quero acreditar, sem ser ingênuo, que o futuro está chegando e vem melhor. Mas preciso ser realista sem ser pessimista.
Aí, vou ao noticiário político. E sinto que o único futuro garantido (espero que a velha natureza não se irrite e me desminta logo ali) é a presença diária do sol aqui no cerrado nos próximos quatro, cinco meses…
No mais, vê-se logo, o futuro só chegou nas vinhetas da Rede Globo. Na real, ao contrário do que disse Lô Borges e Milton Nascimento cantou, tudo está como antes hoje..
Até a programação da Globo nos joga para trás. E mostra que o passado continua presente… A novela Vale Tudo foi transmitida, originalmente, em 1988, quando quase metade da população atual não tinha nascido.
Para essa gente toda, chamada geração millenial, a história da novela das nove bem pode ser entendida como um retrato da atualidade. O vale-tudo continua. Até pior… Em 1988, não tínhamos internet onde, hoje, de verdade, vale tudo.
Nos anos 80 do século passado, quando aparecia uma Odete Roitman, era de carne e osso. Podia ser vista e identificada… Hoje, as odesesroitmans manipulam, mentem, desinformam sem serem vistas e até matam escondidas nos porões das redes sociais.
Quem me dera ser cronista para escrever com leveza, sem ser leviano, sobre o desespero da mãe da guriazinha que morreu num desses tristes e criminosos jogos que infestam as redes sociais.
Quem me dera ter jeito, sem parecer conivente, para defender Brasília da acusação, escancarada na abertura da novela quando a imagem do sujeito embolsando um maço de dólares se mistura com a do Congresso Nacional, de que aqui vale tudo e pronto…
Afinal, a gente sabe, todos ou quase todos os marcoaurélios, mariasdefátimas e césarribeiros dispostos a se dar bem a qualquer custo (para os outros) atuando na capital federal, chegam aqui graças – muitas vezes – às armações das odetesroitmans que se espalham Brasil afora.
Aqui mesmo, vivendo aqui, fazendo a cidade funcionar de segunda a segunda, temos muito mais raquéisacioly e polianas dispostas a trabalhar duro e não tolerar nenhum malfeito…
Quero inspiração para transformar indignação e lucidez em esperança, num texto que convença nossos representantes a se mirar em seus espelhos e verem se é bonita e clara como as manhãs do cerrado a imagem que refletem, ou se lhes dá vontade de fechar os olhos…
Neste momento da nossa democracia, ainda meio trôpega das tentativas de golpe e assustada com arroubos autoritários e hashtags disparatadas, quero ver esperança, indignação e lucidez apontando o horizonte da próxima eleição, quando poderemos dar mais um passo na caminhada sem fim rumo à utopia do Brasil do futuro. Que a semana seja leve para todo mundo.
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Foto da Capa: Agência Brasil