Eu não sei vocês, mas eu estou de cabelos em pé com a situação do nosso planeta. É claro que ficar de cabelo em pé é força de expressão no meu caso. Tenho cabelos curtos, crespos. O máximo de desalinho é quando acordo, ainda mais se está na época de cortar, o que me dá uma estampa matinal do personagem de O mundo de Beakman.
Mas intimidades à parte, o papo aqui é sobre o coletivo. A crise climática, o aquecimento global, tudo isso que, tanto pelos efeitos cada vez mais visíveis e sentidos na prática, quanto pelos alertas e estudos de cientistas e militantes da ecologia, pode em poucos anos acabar com a vida ou, no mínimo, com o modo de vida que levamos aqui na Terra.
Poucos anos? Sim. Por exemplo, se não se fizer nada para acabar com a emissão de gases oriundos dos combustíveis fósseis, sumirão do mapa, sendo engolidas pelo mar, cidades litorâneas, ou parte delas, até 2100. Estamos falando de setenta e sete anos. Você tem um filho pequeno? Um neto? O tempo, meus amigos, passa voando. Há dois dias, eu tinha trinta anos. Hoje, estou com sessenta.
E, contraditoriamente, numa época em que a ciência genética, a medicina celular, tendo à mão equipamentos que permitem escanear o ser humano, apontam para desvendar como retardar o envelhecimento, como atacar na origem o surgimento de qualquer doença, de tal modo que poderíamos viver muito mais, justamente nesse momento da história estamos à beira de acabar com a vida e o planeta.
Um recente relatório coordenado pela Universidade de Exeter, no Reino Unido, em parceria com o Bezos Earth Found, assinado por mais de duzentos cientistas, apresentado na COP28, pede medidas urgentes para reverter a “trajetória desastrosa” em que estamos metidos. O estudo fala sobre os “pontos de não retorno”. E, sobretudo, sobre a inter-relação entre diversos fatores.
Por exemplo, a circulação das águas entre o Atlântico Sul e o Atlântico Norte. Há uma troca: águas quentes e superficiais do sul vão para o norte e águas frias e profundas da porção norte vêm para o sul. Este movimento está enfraquecendo. O derretimento das geleiras da Groenlândia acelerará esse enfraquecimento. O aumento da temperatura do planeta pelo qual estamos passando faz esse degelo ser mais rápido. Se isso acontecer em escala cada vez maior, causará o colapso das florestas tropicais. Vai diminuir a chuva no norte da Amazônia. Como consequência, a Floresta Amazônica, em vez de armazenar o carbono, vai expelir de volta, aumentando o aquecimento global.
A lição da natureza precisa orientar nossos passos. Qual a lição? Está tudo interligado. Se continuarmos separados, pensando cada um na sua vida, na sua empresa, na sua cidade, no seu partido, no seu país, foi-se o planeta.
Mais do que isso, se deixarmos essa pauta nas mãos de governos, que mudam a cada eleição, nas mãos das indústrias e dos homens e mulheres de negócios, que têm o lucro como meta, ou apenas nas mãos dos cientistas e ativistas, passarão décadas e estaremos discutindo, em meio a catástrofes cada vez maiores, parcas soluções.
Essa é uma pauta que precisa vir para o cotidiano de todos. É a mobilização coletiva que pode acelerar e desacomodar os acordos internacionais que falam de reduzir isso ou aquilo até 2050. Não teremos todo esse tempo. Os cientistas estão dizendo claramente que as medidas, que afetam e põem em xeque toda a economia global baseada em energia de combustíveis fósseis, devem ser tomadas pra ontem.
Quem lucra com a destruição do planeta não pode ser o condutor da mudança.
Terráqueos, uni-vos!