Sou absolutamente a favor da realização de procedimentos estéticos. Quando nos olhamos no espelho, só nós sabemos o que nos incomoda. E as razões de alterar algo na nossa aparência interessam a mais ninguém. Também é evidente que é possível chegar a resultados excelentes. Nem precisamos ir ao extremo de citar casos como o da atriz Jennifer Lopez, que melhora a cada dia sem que haja prejuízo às suas feições e expressões, sou capaz de fazer uma boa lista de amigas, amigos e conhecidos que parecem ter se iluminado e ganhado mais viço depois de intervenções (cirúrgicas ou não) certeiras. E ainda tem os tantos outros que passam pelos bisturis e as agulhas de verdadeiros especialistas e a gente nem imagina.
Posto isto, olhando daqui de fora, a sensação que tenho é que tem cada vez mais gente se deformando com o que só posso deduzir que sejam profissionais de qualidade (e índole) duvidosa. Foi-se o tempo em que, assim como os acertos, os erros nessa seara se limitavam aos rostos de pessoas famosas. Agora, olhos saltados, bocas retorcidas, lábios inchados, queixos travados, sobrancelhas congeladas e narizes tortos foram democratizados. Sem falar do aspecto “ageless” (no mau sentido), em que moças na casa dos 20 anos ficam parecendo senhoras de 50 “bem conservadas”. Volta e meia, confesso, levo alguns sustos pelas ruas.
O assunto não é recente. Há anos técnicas vêm surgindo e se multiplicando e avançando e barateando. Recentemente, vem me chamando atenção uma tendência forte nas ruas das cidades. O prezado leitor já reparou no surgimento de clínicas de harmonização facial em forma de franquias? Elas parecem estar abrindo em velocidade semelhante às intermináveis farmácias. Até aí, tudo bem. Agora, com as redes sociais mostrando a cada dia memes ou posts maldosos sobre algum famoso que ficou irreconhecível com o que parece ser uma aplicação excessiva ou equivocada de botox, ácido hialurônico ou quaisquer que sejam as práticas mais momentosas, eu me pergunto: mesmo com tantos sinais de alerta, o que faz um ser humano entrar numa “clínica fast-food” dessas e se entregar sem medo a agulhas harmonizadoras (ou demonizadoras)?
Não é uma crítica, de verdade, é uma dúvida verdadeira. Existem pessoas que estão há tanto tempo deformadas, que eu chego a imaginar que talvez as substâncias injetadas tenham como efeito colateral a alteração da percepção visual da vítima, quer dizer, do cliente. O estranhamento, porém, vai além das experiências que claramente dão errado. Fico bastante intrigada também com aquelas pessoas que transformam tanto as feições que, embora fiquem esteticamente “harmoniosas” e agradáveis ao olhar, ganham um visual genérico que só se justificaria para fugitivos da Interpol. Nesses casos, minha tendência é ficar procurando sinais de que a velha pessoa ainda está ali.
Não é preciso ser gênio da lâmpada para saber o que fazer para evitar desastres. Funciona para qualquer especialidade médica ou estética. Antes de contratar um profissional, precisamos conversar longamente com ele, pedir exemplos de trabalhos realizados, tentar conversar com alguém que já seja paciente e (minha estratégia pessoal preferida) observar o próprio profissional. Ele pode te jurar de pés juntos que não pesa a mão, que é cauteloso no uso das técnicas, mas se o rosto dele não apresenta uma única linha de expressão, e o sorriso não difere muito do muxoxo ou os lábios mal abrem enquanto ele fala, desconfie.
Existe ainda a alternativa mais radical de todas: aceitar as próprias desarmonias e abraçar a própria aparência, compreendendo que aquilo que muitos podem ver como defeitos podem ser justamente o que nos dá personalidade. De novo: só você pode saber o quanto pequenos pés de galinha ao redor dos olhos, lábios finos ou um bigode chinês mais pronunciado afeta sua autoestima. Mas, se eu puder fazer um apelo: fuja dos picaretas!
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