Eu respeito as pessoas que detestam viajar, independente para onde e por que meio de transporte. Eu gosto muito de ficar em casa, mas também adoro viajar, pois é nas viagens que vivo experiências diferentes, conheço pessoas, revejo amigos e coleciono muitas histórias, algumas das quais quero compartilhar aqui com você.
– Na viagem de carro que estamos fazendo pelo Brasil, chegamos a fazer percursos de 17 horas num dia, sendo que a cada duas horas trocávamos de motorista e o que estava “de folga” aproveitava para tirar uma soneca. Assim não foi tão cansativo. Eu lembrava que alguns motoristas de aplicativos trabalham 12 horas por dia, seis dias por semana, sem ter com quem compartilhar o volante, valorizei ainda mais o trabalho destas pessoas. Num destes trechos longos, eu estava no banco do carona com uma venda nos olhos para poder dormir, reclinei bem o banco e, mesmo sabendo que não deveria fazer isto, em algum momento ergui as pernas no painel para descansar. Acordei com a Grace dizendo: “Nos pararam!”. Retirei a venda dos olhos e dei de cara com um policial de cada lado do carro. Levei um susto! Estávamos num posto da PRF. A policial que abordou a Grace perguntou: “Ele está doente?”. Eu mesmo respondi que só estava dormindo. Pediram a habilitação e documentos do carro e depois me deram um puxão de orelhas por estrar com os pés erguidos. O Policial perguntou o meu número de WhatsApp e disse que iria me enviar um vídeo mostrando o estrago que o airbag faz com as pernas quando acionado. Prometi para ele e para mim mesmo que nunca mais irei erguer as pernas no painel do carro.
– Duas experiências com cachorros: logo que entramos na casa de uns amigos em Salvador a Grace pisou em cima de um pinscher zero, aqueles “cachorrinhos miniatura”, que foi cheirar os seus pés, por sorte a cadelinha sobreviveu, mas nunca mais chegou perto dela. Se os amigos não fossem tão queridos como são, acho que teriam nos considerado personas non gratas. Já na Ilha de Boipeba, saímos a caminhar e uma cachorrinha de rua começou a nos acompanhar. Se parávamos em algum lugar, ela se sentava nos nossos pés e não pedia nada, só queria andar conosco. Quando subimos num quadriciclo para fazer um passeio, ela pulou e se acomodou entre nós. Como não amar um bichinho destes? Soubemos depois que isto é bem comum, os cachorros de rua adotam turistas. A nossa amiga se chama Luna e outro casal que visitou Boipeba se apaixonou a ponto de a levaram para dormir com eles na pousada. Não chegamos a tanto, apenas comprei ração e deixei um estoque para ela comer.
– Existem muitas diferenças culturais de uma região para outra neste nosso Brasil, o que torna o viajar ainda mais interessante. Passamos numa padaria próxima à pousada que estávamos hospedados em Boipeba e fomos informados que no dia seguinte abriria às 6h da manhã. Levantamo-nos cedo para fazer uma caminhada e fomos à padaria tomar café. Para nossa surpresa a menina do caixa disse que a Padaria abre às 6 h, mas começa atender às 7h, quando chegasse a sua colega. Perguntei se ela não poderia passar um café para nós e ela respondeu que não podia sair do caixa. Fazia o quê no caixa se não iria atender ninguém? Num posto de combustível a beira da estrada tinha uma enorme placa informando: banheiro para “toristas”. As pessoas que ali trabalham sabem operar o computador e a máquina de cartão de crédito, não são ignorantes, mas não perceberam o erro de português.
– A ditadura do som: Em algumas praias é comum as pessoas levarem aquelas caixas de som JBL do tamanho de uma mala e colocarem a música de sua preferência para toda a praia ouvir. Mas isto não ocorre só nas praias, estávamos num restaurante a beira-mar ouvindo a música do ambiente e a do restaurante ao lado que estava com o volume alto, e não é que chega um pessoal com uma destas caixas e se senta na mesa vizinha tocando um funk a todo volume? Fomos num passeio de barco com mais 40 pessoas e lá tinha um cara sonorizando o barco com o seu gosto musical. Até numa trilha no meio do mato encontramos uma turma com uma JBL. Um total desrespeito para com os demais. Fiquei feliz em ver que algumas praias já estão proibindo o uso destes equipamentos. Ufa!
– Quem viaja para o nordeste vai encontrar praias lindíssimas e um povo amável, por outro lado, precisa estar preparado para conviver com o calor, com moscas, mosquitos e as condições locais. O Waze achou um atalho que economizava uma meia hora de viagem e nos encaminhou para uma estrada de terra onde enfrentamos um engarrafamento. De carros? Não, de bois! Uma boiada seguia pela estrada e tivemos que aguardar o tropeiro liberar a estrada. Em outro momento, já na BR 101, me chamou a atenção um outdoor na estrada que dizia “Posto de Combustível a 2 km – Banheiros limpos”, e realmente banheiros limpos são coisa rara, este tinha até papel higiênico!!! Em qualquer estrada ou cidade que passar vais encontrar um posto de combustível, churrascaria ou algum estabelecimento com o nome fazendo alusão ao Rio Grande do Sul. Não vi nenhum estabelecimento com nome de catarinense, paranaense ou paulista, mas gaúcho tem por todo lugar. Acho que foram embora para fugir do frio e do calor insuportável do verão gaúcho.
Eu já tive a oportunidade de me hospedar em Resorts e de fazer um cruzeiro pelo Caribe, foram experiências ótimas. Depois do terceiro dia nestes locais, comecei a achar tudo repetitivo. A vantagem de viajar de carro é que, quando começa a ficar monótono, você pode pegar a estrada e buscar outro lugar. Acho que o meu espírito é meio inquieto para ficar muito tempo no mesmo lugar. O resort e o cruzeiro oferecem coisas muito diferentes de uma barraca num camping, mas cada experiência tem os seus encantos. Por isto concordo com quem diz que “quem viajar, verá”.