Das novidades que a evolução em marcha ré do ser humaninho nos oferece, o apodrecimento do cérebro, ou brainrot, é a trend topic dahora!
Mesmo sendo de 2007, o que é antigo pela medição em anos-luz internéticos, o apelido carinhoso para a degradação do cérebro causada pelo excesso de consumo de conteúdo inútil ganhou manchetes e análises recentes.
Sabe aquela pessoa que não engata uma conversa sem falar da última fofoca, fake news, joguinho, piada, meme, dancinha, treta, figurinha, influencer, coach, enfim, qualquer conteúdo sem nenhum conteúdo da internet? Bom, essa pessoa tem agora um diagnóstico: um cérebro em estado de apodrecimento.
Não sou contra a diversão online, não me entenda mal. A descontração é essencial para nossa saúde mental, dizem estudos de especialistas que não sei quem são, pois inventei isso agora, como muitas das bobagens que estão na internet. Mas, sim, a descontração é necessária e saudável, e sempre fez parte da história da humanidade. Mas e se essa descontração sair do controle e passar a guiar sua vida, ser a sua escola, religião, modo de viver e se comunicar? Pior, se desde criança você aprender que esse é o jeito de se viver a vida? Pois bem, esse é o cérebro apodrecido. Uma maçã que cresce já com um bichinho dentro, instalado pela própria macieira.
Lembro quando surgiu o fax (xóvens, pesquisem no Google). O tio do meu chefe passava o dia mandando piadas e gastando folhas e folhas com inutilidades. Nos primeiros 5 segundos, era divertido. Depois, cheia de trabalho pra fazer, ficava cada vez mais irritada enquanto tinha que esperar a tripa de abobrinhas chegar pra poder enviar ou receber algum documento importante. Passado um tempo, curto, o chefe proibiu de receber os fax do tio, porque a quantidade de papel utilizada estava incomodando o bolso. Daí pra Internet e os primeiros GIFs foi um tombo. Morro abaixo, rolando em alta velocidade.
Que a gente, como um todo, nunca foi muito esperto, a história da humanidade mostra com fartos exemplos. Pra chegar na desigualdade social e acreditar nas fake news de hoje, passamos pela concordância em queimar mulheres por bruxaria, guerras, ascensão de ditadores, tortura de opositores políticos, exploração dos recursos naturais do planeta e seus coabitantes, pra citar só alguns. Enquanto isso, nosso cérebro deteriorado se ocupa mais com as pseudonotícias de quem foi o famoso visto tomando sorvete de jaca na praia ou viajando para um local paradisíaco e instagramável com o novo peguete, do que com as políticas de saúde mental.
Fomos inundados nos últimos dias com informações e fotos do casamento do filho do homem mais rico da Ásia, que custou R$ 3,2 bilhões, ou 2.266.289 salários mínimos de hoje. Valores do Brasil, porque na Índia, além de não ter leis trabalhistas claras, o valor da remuneração é muito menor. A ostentação brega e desnecessária vira notícia, corroendo mais uma vez os cérebros com ilusões de poder e riqueza, enquanto a realidade não mostra quantos explorados precisam existir pra alimentar um rico e bancar essa festa.
É isso, nosso cérebro já está contaminado e, aparentemente, mesmo não vindo de fábrica com defeito, conseguimos arruinar o que resta dançando sobre as ruínas num vídeo que pode viralizar nas redes.
Foto da Capa: Freepik / Gerada por IA
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