Um círculo de cadeiras e um monte de crianças correndo em volta delas. A música cessa e você tem que sentar imediatamente para não ficar fora da brincadeira. A cada rodada, menos uma cadeira e uma pessoa, até restar apenas um vencedor. Se você nunca brincou da dança das cadeiras e passou pela experiência de ficar sem lugar, não sabe como é ter que lidar com a sensação de que não foi esperto o suficiente, ágil o suficiente, atento o suficiente. Porém, se o vencedor tiver sido você, que alegria!
Vi uma cena desta brincadeira na série que estou assistindo no momento e voltei ao tempo em que as alegrias eram abundantes. Um dia no parque, um mergulho na piscina, o colo da mãe, o abraço do pai, deitar na grama, jogar bola, aprender a andar de bicicleta sem rodinhas, tomar um copo de leite morninho antes de dormir. Poderia fazer uma lista enorme, com muitos outros momentos como esses. Todas seriam alegrias simples.
Já escrevi aqui outros textos sobre a felicidade, mas sempre me questiono a razão pela qual, à medida que envelhecemos, a nossa felicidade vai se tornando tão evasiva. Talvez seja porque passamos a perseguir sonhos maiores e descobrimos que eles não nos realizam tão profundamente quanto pensávamos. Talvez porque achamos que a felicidade está em acumular bens, mas percebemos que ter tudo não é o que necessariamente nos trará a alegria. Talvez porque acreditamos que precisamos estar sempre rodeados de pessoas, mas nos damos conta de que “antes só do que mal acompanhado” é o hit da maturidade.
Quero uma vida que caiba em mim. Ouvi essa frase em algum lugar e desde então fiz dela meu mantra. O que significa? Que tudo o que “me sobra” não me vale. Reduzi drasticamente a quantidade de coisas e pessoas que mantenho ao meu redor. Ao primeiro sinal de que vai me causar ansiedade, incômodo ou desconforto, descarto. Sem culpa e sem neuras.
Se eu voltasse a fazer a dança das cadeiras, sair ou ficar seria circunstancial. Hoje consigo dar ao jogo novos significados:
- A vida se encarregará de descartar as cadeiras, uma a uma, e com elas sempre haverá alguém que irá embora junto. Deixe que se sentem em outro lugar.
- À medida que diminuírem as cadeiras e as pessoas, o círculo ficará menor e o espaço se tornará mais harmonioso para quem permanece nele. Rodar vai requerer menos esforço.
- Aproveite para rodopiar, dançar e sorrir enquanto estiver na dança. Não corra para alcançar uma cadeira, se ela for sua, estará na sua frente quando a música parar.
- Nem sempre ficar de fora significa perder. Talvez aquele não fosse seu momento, seu lugar ou as pessoas com as quais você deveria estar.
- E por fim, ao ficar sem a cadeira, pegue um banquinho e coloque-o em outro lugar. Quem foi que disse que só cadeiras servem?
Foto da Capa: Freepik
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