Segundo o IBGE, 56% da população brasileira é composta por pessoas negras. Esse grupo, porém, é sub-representado nos parlamentos e instituições democráticas pelo país. Em outros indicadores, no entanto, os negros são, infelizmente, maioria, como em índices de violência, criminalidade, falta de acesso à educação, vulnerabilidade social. O Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar, por exemplo, mostrou que 10,7% dos lares de pessoas negras convivem com a fome, contra 7,5% de lares de pessoas brancas.
Já o Fórum Brasileiro de Segurança Pública revelou que, enquanto o número de não negros mortos caiu 33% entre 2009 e 2019, o de negros subiu 1,6%. Em 2020, 76,2% das pessoas assassinadas eram negras. Em 2022, 500 trabalhadores foram resgatados em condição análoga à escravidão pela Auditoria Fiscal do Trabalho; destes, 84% se autodeclararam negros.
Não se trata de lutar por um projeto de Brasil para os negros, e sim por um projeto do movimento negro para todo o Brasil. Essa luta não é só a mais antiga deste país: é a mãe de todas as lutas contra a desigualdade e as injustiças sociais. Reconstruir esse país, construir uma democracia, de fato, exige lutar por equidade racial, justiça social e respeito aos direitos humanos de todas e todos. Por isto, não podemos nos enganar que a democracia pode conviver com o racismo.
O Quilombo nos Parlamentos é uma iniciativa da Coalizão Negra Por Direitos de apoio a mais de 100 candidaturas de pessoas ligadas ao movimento negro que concorrerão a cargos no Congresso Nacional e nas Assembleias Legislativas por todo o território nacional.
O objetivo da ação é reduzir o hiato de representatividade no Poder Legislativo e contribuir para um projeto de país mais justo para todas e todos, alinhado à luta contra o racismo.
Mas quem é a Coalizão Negra por direitos que consegue mobilizar e obter apoio para o Quilombo nos Parlamentos de Emicida a Gilberto Gil? E chegar até a mim, esta gaúcha que aqui vos fala?
A Coalizão Negra por Direitos é uma organização social do movimento negro do Brasil. Formada por mais de 200 ONGs, associações e movimentos sociais de luta antirracista no território nacional, a coalizão é vista atualmente como o maior coletivo negro em atividade no país. Durante o momento mais crítico da pandemia da covid-19, nos anos de 2020 e 2021, a coalizão negra, em parceria com a Oxfam Brasil, realizou a campanha “Tem Gente Com Fome”, que doou toneladas de alimentos e mais de 54 mil cartões de alimentação para pessoas em situação de vulnerabilidade social por todo o país.
A trajetória política da organização teve como marco inicial o lançamento do manifesto “Enquanto Houver Racismo Não Haverá Democracia”, publicado em 2020. Desde então, a Coalizão Negra por Direitos tem promovido atividades de formação, de capacitação técnica e de busca por recursos financeiros para dar suporte a diversas iniciativas, além de criar plataformas que ajudam a ampliar relações entre os diferentes grupos e movimentos sociais.
O projeto Quilombo nos Parlamentos nasceu como forma efetiva de consolidar mais de 100 candidaturas negras para ocupar espaços políticos, fortalecendo as respectivas campanhas eleitorais em 2022. Para isso, a coalizão criou um site onde os nomes dos candidatos e candidatas serão expostos e atualizados, a fim de tornar as candidaturas mais visíveis e acessíveis. Outra iniciativa criada é a “Comitês Antirracistas”, que reúne dicas e materiais de apoio para impulsionar as campanhas eleitorais.
Te convido a conhecer a iniciativa e a pensar seu voto em candidatos que tem a luta antirracista como um princípio democrático. Saiba que é extremamente desconfortável ser excluído do debate e das ações políticas sendo maioria da população.