Quando Vanete Pereira Nunes, minha amiga de infância nos Campos de Cima da Serra, me chamou para participar da produção do livro que estava escrevendo sobre Jaquirana, nossa terra natal, a emoção foi muito grande. Quando comecei a revisar, as lembranças me sacudiram e percebi a potência das relações que se estabelecem lá no início e permanecem inteiras, mesmo com o passar dos anos e a distância. A leitura me fez voltar no tempo e me impressionou pela densidade. Convoca os leitores para uma viagem permeada por registros históricos, geográficos, culturais, políticos, religiosos e humanos. Nas 486 páginas do livro “Jaquirana – um pequeno resgate” (Pubblicato Editora, 2022) eu encontrei o relato das memórias de uma mulher que nasceu, cresceu, saiu para estudar, voltou, dedicou-se ao magistério, em especial à alfabetização, formou família e escolheu ficar lá e cultivar suas raízes.
Encontrei muito mais! O livro é o resultado de um trabalho de pesquisa extenso e minucioso, a partir de um olhar sensível, profundo e atento para a região e seus povoados, para a formação do município e suas potencialidades, para a comunidade diversa que sempre agregou e agrega e para a importância da educação e do conhecimento. O relato atravessa várias gerações da família de Vanete e de inúmeras outras que ali vivem ou viveram por algum tempo. Também são lembrados os loucos que perambulavam pelas ruas e que a comunidade acolhia. Mas minha emoção cresceu mais um tanto quando Vanete me pediu para escrever uma das orelhas do livro. E assim fui absorvida por uma experiência especial que tornou mais leve o difícil período de pandemia e de perdas que vivíamos.
Depois de muitas trocas e muitas conversas para chegar ao resultado final no alvorecer desta primavera, voltei à Jaquirana para a tarde de autógrafos que marcou o lançamento do livro – em 24 de setembro, na Pousada Vista Alegre (Rua São José, 887), um dia bonito e de muito acolhimento. O valor das vendas nesta data foi doado pela autora para a Pastoral da Criança, o Lions Clube e para os Bombeiros Voluntários do município, uma atitude que tornou o encontro ainda mais significativo.
O livro me encantou também porque encontrei nas suas páginas muitas gerações da minha família materna – meus bisavós e avós, minha mãe e minhas tias e tios, primas e primos próximos e distantes, pessoas que fizeram parte da minha vida lá no início e estão guardadas na memória, assim como os loucos que perambulavam pelas ruas e que observávamos com inquietude e respeito. Fico agora a imaginar que as pessoas que estavam naquela imensa fila para os autógrafos certamente já estão se achando no livro, assim como eu me achei.
Na foto da capa, assinada por Gustavo Demori, está Márcio, filho da autora, à beira do rio Camisas
A edição tem a marca da Pubblicato Editora, do Vitor André Rolim de Mesquita e da Andrea Peccine da Costa, parceiros ousados e generosos.
É uma publicação que mostra a importância da preservação da memória através da pesquisa e de histórias orais registradas em livros, através de manifestações culturais e do tombamento de espaços públicos e de prédios históricos. O legado da professora Vanete Pereira Nunes vai possibilitar que as futuras gerações possam mergulhar na história da sua terra e reforçar sua identidade. Não tenho dúvidas de que é um livro para ser lido e relido, para ocupar os bancos escolares e para ser levada às bibliotecas do Município, do Estado e do País.