Na França, o Parlamento aprovou, semana passada, uma legislação para regular as postagens de influenciadores nas redes sociais. Os franceses criaram regras para a monetização das redes, para a divulgação de tratamentos de saúde, de propostas de negócios e outros temas que geram golpes e desinformação… Quem infringir a lei pode ser condenado a até dois anos de cadeia e a pagar multa de 300 mil Euros.
Por aqui, o projeto da Lei Brasileira de Liberdade, Responsabilidade e Transparência na Internet – apelidado PL das Fake News – continua congelado na Câmara dos Deputados, paralisado por um suposto temor de que a regulação vire instrumento de censura. E sufocado por caras campanhas publicitárias. O próprio Google admite, em documento enviado ao STF, que gastou R$ 2,1 milhões em postagens contra o PL das Fake News.
Enquanto isso, nas plataformas nacionais, todo dia tem alguém, impunemente, cometendo algum tipo de barbaridade, como que confirmando a profecia de Nelson Rodrigues de que os idiotas vão tomar conta do mundo e a constatação de Umberto Eco de que as redes sociais deram voz a uma legião de imbecis.
Na semana passada, vimos o caso da mamãe e da filhota mimosa dela, ditas (bad?) influencers com perfis no Instagram e no TikTok, exemplos bem-acabados dos legionários de Eco. Omito os nomes das delas para evitar que alguém seja tentado a acessar as bobagens das duas.
Sabe o que elas fazem nas redes segundo declara a própria mamãe? Trolagem… é… trolagem. A mais recente é essa que ganhou espaço nos principais portais de notícias e em telejornais: as duas foram pra rua gravar vídeos perguntando a crianças negras se elas preferiam receber R$ 5, R$ 10 ou presentes embalados em duas caixas grandes.
As crianças preferiram os presentes. E receberam, uma um macaco de pelúcia. A outra, uma banana… E não foi a primeira vez. A dupla já tinha humilhado um motorista. Uma disse que o carro dele fedia. A outra, que o mau cheiro poderia vir do cabelo dele. Chamadas a se explicar, as duas disseram que se trata de brincadeiras, trolagens, e que não são racistas… Agora, tem até nota de uma assessoria jurídica nas páginas das duas com a alegação que virou moda quando alguém é pego em algum malfeito: a postagem das crianças foi tirada do contexto… Fácil, não?
E a mamãe e a mimosa continuam por aí, trolando… Elas têm um milhão de seguidores no Instagram e 13 milhões no TikTok… E aqui chegamos ao complemento do alerta de Nelson Rodrigues. Ele disse que os idiotas vão tomar conta do mundo não por competência, mas porque são muitos…É uma enorme legião se manifestando com esses potentes megafones que a tecnologia disponibiliza para todo mundo sem nenhuma regra.
O PL das Fake News foi retirado da pauta de votações da Câmara dos Deputados. Pressões das big techs “sensibilizaram” a bancada evangélica, partidos de direita e integrantes do Centrão, que se manifestam contra e chegam até a dizer que a aprovação da lei criaria um Ministério da Verdade.
O deputado Orlando Silva (PCdoB/SP), relator do PL, já desistiu da proposta de criar um órgão autônomo pra fiscalizar o cumprimento da lei. Agora, ele examina novas sugestões apresentadas.
Parlamentares direitistas, como a deputada Bia Kicis (PL/DF), que já foi punida por divulgar desinformação sobre vacinação infantil, são contra alegando risco de censura e perseguição após a aprovação do projeto.
Do outro lado, a deputada Fernanda Melchiona (PSOL/RS) apoia o projeto. Em notícia publicada no portal da Câmara dos Deputados, no começo de maio, ela diz que os parlamentares “têm um desafio social de unificar todos que sabem da necessidade de garantir transparência, liberdade de expressão para o usuário, mas combater os crimes e a desinformação que custam vidas”.
Será que é tão difícil chegar a um texto de lei que garanta o direito à liberdade expressão e combata os golpistas (em qualquer sentido que você queira usar o termo) que se escondem nas redes sociais para ganhar dinheiro e tentar ganhar algum poder espalhando desinformação a torto e a direito? Principalmente à direita?
Foto da Capa: Reprodução do G1