Treze de maio traição,
liberdade sem asas
e fome sem pão
Oliveira Silveira
Em que pese a moda mundial de inconsciências e inconsistências políticas, chegamos ao chamado mês da consciência negra. E estamos, também, às vésperas de um primeiro 20 de novembro como feriado em todo o país. O 20N nasceu na capital gaúcha, em 1971, como contraponto à celebração da falsa abolição de 13 de maio de 1988. Foi idealizado pelo Grupo Palmares, no então Clube Social Negro Marcílio Dias – hoje cunhado como Clube Náutico Marcílio Dias –, no bairro Menino Deus, tendo como um de seus arautos o poeta Oliveira Silveira.
20 de novembro de 1695 é conhecido como a data do assassinato de Zumbi, líder do Quilombo de Palmares, situado na região sul de Pernambuco. Pela representação e liderança de Zumbi, a Coroa Portuguesa teria exibido sua cabeça decapitada em praça pública, no Recife. Daí o 20N ser conhecido, ademais, como Dia Nacional de Zumbi, líder que nasceu livre, mas que não deixou de lado a luta pela liberdade de tantos.
Apesar do 20 de Novembro ser uma data nascida em minha cidade natal, o que me orgulha, a história a mostra como resultado de um movimento de vívida resistência. Afinal, talvez, estejamos falando de uma das capitais mais racistas do país. A data nacional foi criada em 2011, no governo de Dilma Rousseff, com liberdade para estados e municípios deliberarem a instauração de feriado. Porto Alegre teve sua tentativa de feriado municipal, de 2015, barrada pelo Sindilojas.
Agora, contudo, é nacional. Um feriado que fala de luta e não da benesse do colonizador é uma boa ferramenta simbólica e um reduto narcísico importante para nós, negras e negros do Brasil e da América Latina, ou, como dizia Lélia Gonzáles, de Améfrica Ladina. A propósito, como vivo na Argentina, não posso não expandir o olhar. O país é tido como inequívoco reduto branco do continente, não sem certa razão se estreitarmos nosso olhar sobre bairros turísticos da capital portenha. Em todo o caso, viver a negritude com “los hermanos” tem sido um passo mais no devir negra.
Por aqui, o racismo “hacia los afro” se mistura com o racismo remetido aos pertencentes aos povos originários, aqui chamados negros. Então, discursivamente, há muitos e muitos negros, o que acontece é que a maioria deles não é afrodescendente. Semana passada, tomei contato com um vídeo interessante de uma organização que procura visibilizar os negros afrodescendentes na Argentina. Acontece que o último 8 de novembro celebrava o Dia dos Afroargentinxs y de la Cultura Afro em homenagem à militar negra María Remedios del Valle. De passo em passo vamos aquilombando, construindo alguns redutos narcísicos necessários que nos preservam, resgatam e ajudam a re-existir.
Foto da Capa: Gerada por IA / Freepik
Todos os textos de Priscilla Machado de Souza estão AQUI.