Uma sentença pode prescrever e, portanto, perder sua eficácia. Mas o julgamento popular não, este não prescreve. Este é vitalício, ou melhor, perpétuo. Técnico de futebol campeão da América pelo Atlético Mineiro, Cuca foi condenado por ter cometido crimes sexuais contra uma menina de 13 anos. À época, ele jogava no Grêmio que estava em excursão pela Europa. Cuca e outros três jogadores ficaram detidos por um mês em Berna, em 1987. O julgamento aconteceu dois anos depois, sem a presença deles. Três atletas, incluindo Cuca, deveriam cumprir uma sentença de 15 meses de detenção. Um quarto jogador recebeu uma pena menor. A condenação se deu por coação sexual. Cuca nega ter participado.
Em alguns momentos de sua carreira o episódio voltou à tona, mas nunca tão forte como agora. Ao desembarcar no Corinthians, o treinador encarou uma pressão enorme por ter participado do que ganhou o codinome de Caso Berna. O Corinthians tem um projeto intitulado “Respeita as Minas”, o que potencializou a rejeição da escolha de seu nome para treinador da equipe.
Mas Cuca cometeu erros. E aqui nem falo de 1987, que nem tenho o direito de julgar. Na sua entrevista coletiva de apresentação como treinador corintiano disse que “não fez nada”, e que o seu erro foi não ter falado mais no assunto ao longo de todos estes anos. Mais: Cuca disse que tem “vaga lembrança” do que aconteceu e que sua participação no caso foi estar no quarto. Frases lamentáveis de quem não entendeu o impacto do que aconteceu naquele quarto, com uma menina de 13 anos.
Dois dias depois, o Jornal Nacional teve acesso ao Arquivo de Berna e entrevistou a diretora Barbara Studer que, segundo a reportagem, confirmou a presença de sêmem de Cuca no corpo da vítima.
Só este depoimento já é repugnante. Mas observem: se a versão do JN estiver errada e se o que diz Cuca corresponder à verdade, então ele foi cúmplice do que aconteceu? Estava no quarto viu colegas coagirem uma menina de 13 anos e não fez nada? E acha que foi uma atitude correta?
Cabe aqui uma reflexão e um mea culpa da imprensa. Precisamos ser influenciados pela condenação do ex-jogador Robinho, por estupro na Itália, e pela recente prisão do ex-capitão da seleção brasileira na Espanha, Daniel Alves, acusado de estupro, para retomar o Caso Berna? Erramos! Cuca já deveria ter sido questionado com maior firmeza ao longo de todos estes anos. Neste caso, a imprensa também foi contagiada pela pressão de torcedores do Corinthians, que rejeitaram seu nome, com veemência.
Cuca durou apenas dois jogos e sete dias no Corinthians. A sentença da sociedade não prescreveu!