Alguns dias atrás foi anunciada uma medida que permite aos aposentados bloquear empréstimos consignados indesejados. Indesejado é apenas um eufemismo para um crime do qual o aposentado foi vítima e as ditas autoridades fazem de conta que o criminoso é o Além. E, portanto, como não atacamos os criminosos, as vítimas é que precisam se prevenir, porque se não o fizerem deixam de ser vítimas para serem culpados. Isso é mais ou menos como se a polícia recomendasse que você deixasse o carro em casa para não ser assaltado com ele. Ou, seria como ser o culpado por andar com celular na mão ou no ouvido no centro de alguma grande cidade brasileira e ser roubado. Falta pouco para alguém propor a redação da Carta de Direitos dos Roubadores: “É direito do roubador tirar o celular da mão de um desavisado que andar pelo centro da cidade dando sopa”.
Então, se não bloquear os empréstimos no app do INSS, azar o seu. Não me venha reclamar. Mas veja. O assaltante de carro ou de telefone é notoriamente um bandido aos olhos da Lei. Os patrocinadores do golpe dos consignados não estão dentro de presídios, não são quadrilhas de estelionatários com longa ficha policial. O golpe do consignado tem como beneficiários as grandes instituições bancárias e financeiras do país, é o pessoal da Faria Lima que ganha dinheiro. A mídia fala em golpe do consignado, políticos falam em golpe do consignado, o governo fala e ninguém parece saber quem são os golpistas. É como se atrás das drogas não houvesse traficantes.
Se você tem alguém na família que se aposentou nos últimos anos, provavelmente esta pessoa vai relatar que não foi o INSS que lhe informou sobre a liberação da sua aposentadoria, foi um agente de uma financeira, que já estava ligando para oferecer um consignado antes mesmo da portaria do seu benefício sair. Alguma novidade nisso? Nenhuma. Todo o Brasil sabe que isso acontece, mas como acontece? Mediante uma relação comercial criminosa e promíscua entre agentes públicos do INSS ou Dataprev ou.. com instituições financeiras, aquelas da Faria Lima. Temos aí, no mínimo, improbidade administrativa, prevaricação, corrupção ativa… Mas, se até as pedras da rodoviária de Brasília sabem disso, por que ninguém faz nada? Com a palavra o governo federal, deputados, senadores…
Mas agora é só bloquear e o problema vai terminar. Entre no Google Play ou na Apple Store e baixe o app Meu INSS? Não sabe o que é app? Peça ajuda pro seu neto. Faltou crédito celular? Espere virar o mês para baixar. Ah, o telefone não tem mais memória? Apague algum aplicativo, como WhatsApp, que consome muita memória. Se isso não funcionar, faça um consignado – só mais um – e troque o telefone. Vai valer a pena. Depois você vai precisar fazer a sua conta no “gov.br”.
É simples, entre lá preencha tudo, mande os documentos e faça o reconhecimento facial, é fundamental. Espero que sua câmera seja boa. Bom mesmo se você fizer um certificado digital pessoal, já vai para a categoria Ouro. Custa só uns 200 pilas, só agendar numa certificadora, você sabe, né? Caro? Nunca ouviu falar disso? Ok, vá em frente, chame o seu neto de novo. Depois vai ficar facinho, prometo. Acesse o Meu INSS, vá até o botão bloquear empréstimo. Entre e o sistema vai pedir mais uns documentos, que você terá que tê-los no telefone para funcionar. E cuidado, cada documento tem que estar digitalizado em pdf, colorido 24 bits e qualidade 150 DPI. E cada arquivo não pode exceder a 5MB cada. Não disse que era fácil? Bloqueado.
De qualquer forma, a vida pode ficar melhor no futuro. Pense aposentados e pensionistas numa vida tranquila, sem golpes de consignados, sem dívidas impagáveis. Quero, humildemente, dar uma sugestão para uma medida provisória para acabar com o sofrimento dos aposentados e, ao mesmo tempo, com o custo de venda dos farialimers. Porque a operação deles é grande. Pequenos correspondentes, subsidiárias, empresas de telemarketing gigantes, um trabalho danado em escala Brasil. Para ficar bom para todo mundo, cada aposentado passaria a receber para sempre 30% dos seus proventos limpinhos, com as dívidas canceladas e sem direito a novos empréstimos. Para compensar as financeiras do perdão das dívidas e daquilo que deixarão de faturar no futuro, elas passariam a receber diretamente do amigo governo os 70% restantes dos proventos de cada aposentado. E, assim, aposentados e pensionistas não teriam mais que se incomodar em ficar de intermediários de contratos de empréstimos e ficariam sem dívidas. Já que no fim o dinheiro vai para as financeiras mesmo, que vá direto. Genial, não? A vida, enfim, livre de consignados. E sem trapaças, claro.
Foto da Capa: Agência Brasil