O debate no futebol, na esmagadora maioria das discussões, é governado por opiniões categóricas. Fulano não joga nada. Se o time perde, pode contar com a crítica avassaladora que deixa um plantel inteiro como imprestável.
O pânico de torcer para uma equipe que não ganha guia muitas das opiniões. Para afastar o horror de viver ao lado da derrota, exorciza-se todo aquele que parece ser o culpado por esse mal insuportável.
Um dos argumentos para depreciar um jogador contratado é dizer que ele era reserva na equipe em que estava. Muito se disse para enaltecer o Felipão, como se ele fosse um mágico capaz de fazer um pereba ser campeão, que Jardel e Paulo Nunes eram reservas antes de virem para o Grêmio.
Mas eram reservas em que clube e de quem? Jardel foi para o Vasco com 17 anos. Foi bicampeão brasileiro nas divisões de base. Esteve na seleção sub-20 que conquistou o Mundial da categoria em 1993. No profissional, não se firmou como titular, mas, após a morte do cracaço Dener, foi escalado para substituí-lo na final do campeonato carioca. Fez os dois gols que deram o tri para a torcida vascaína.
Considerado grandalhão e desengonçado, apesar de botar a bola pra dentro, foi para o Grêmio, onde fez história e daí saiu para outros grandes times, fazendo muito sucesso em Portugal. Atuou também pela Seleção Brasileira.
Paulo Nunes, outro achincalhado por ter vindo como reserva do Flamengo, se destacou e ergueu taças no Grêmio, seguindo para timaços como o do Palmeiras e teve suas passagens pela Seleção. No Mengo, jogou com essa turminha da sua geração que vinha da base: Djalminha, Marcelinho Carioca, Zinho e Sávio. Ser banco do Flamengo, no meio dessas feras, não parece um grande demérito.
Tadeu Ricci, que veio para o Grêmio e foi o grande maestro da equipe dirigida por Tele Santana que recolocou o tricolor no caminho das vitórias a partir de 1977, era reserva do… Zico, no Flamengo. Uma coisa é ser banco de um meia boca. Outra, de um dos maiores jogadores do mundo.
E chegamos ao criticado Reinaldo, lateral esquerdo atual do Grêmio. É acusado de ser vulnerável na marcação. Vários gols que o time sofreu foram de jogadas criadas pelos adversários no seu setor. Não lembram muitas das suas assistências ou participação em várias jogadas que resultaram em gols do tricolor gaúcho. Quando Luisito esteve por aqui, Reinaldo lançou várias bolas para o craque uruguaio, com os pés ou com as mãos, que resultaram ou em gols ou em ataques perigosos.
Também não se estende a fraqueza defensiva para seus colegas, sejam de zaga, de meio-campo ou mesma de ponta esquerda. Recai a crítica toda sobre ele. Para depreciá-lo, usam o argumento de que veio como reserva do São Paulo.
Primeiro, ser banco no São Paulo é ser do plantel de um dos maiores, assim como o Grêmio, clubes brasileiros. Mas lá Reinaldo atingiu algumas marcas que contradizem essa ideia de fracasso: em 16 de março de 2022, completou 330 jogos pelo tricolor paulista, se tornando, junto com Hernandes, o terceiro jogador com mais partidas disputadas no século XXI, atrás apenas de Luís Fabiano e de Rogério Ceni. Marcou 32 gols, sendo o lateral esquerdo que mais botou a bola nas redes da história do clube. Fez uma sequência impressionante de acertar 14 cobranças de penalidades máximas.
Na última terça-feira, anotou os 2 gols da vitória do Grêmio sobre o Fluminense pela Libertadores, um de pênalti e outro de falta. E tem gente que ficou surpresa.
Foto da Capa: Grêmio.Net
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