Em um experimento da Universidade de Nova Iorque, conduzido pelo Psicólogo John Bargh, que se tornou um clássico, pesquisadores solicitaram aos alunos entre 18 e 22 anos, que montassem frases de quatro palavras a partir de uma série de cinco. Para um grupo, essas palavras continham significados que lembravam pessoas idosas, tais como Florida, careca, grisalho, enrugado. Ao terminar a tarefa, eles eram encaminhados por um corredor para realizarem outra atividade. E esse era o objetivo do experimento. Os pesquisadores mediam o tempo que cada aluno levava entre as salas. Os jovens que haviam tido contato com as palavras de temática idosa haviam percorrido o trajeto significativamente mais lento do que os demais. Mas por quê? Isso se chama efeito associativo, como aprendemos na Neuropsicologia e Neurociência. Este experimento é contado no livro Rápido e Devagar – Duas Formas de Pensar, sobre Economia do Comportamento, onde Daniel Kahneman, prêmio Nobel de Economia, ensina que “a palavra evoca lembranças, que evocam emoções, que por sua vez evocam expressões facias e outras reações, tais como um aumento geral de tensão e uma tendência a evitar algo”. Como podem verificar, o poder da palavra não deve ser subestimado. Ao contrário, precisamos falar sobre ele.
Numa palestra que assisti da Mônica Lan, Facilitadora Existencial e Polinizadora de Inspirações, como ela se autodefine, duas falas me bateram profundamente. A primeira foi que “o que preenche a mente, tende a preencher a vida” (na verdade, uma frase de Julian Barnard). A outra, foi a de que “nós é que atribuímos significado, interpretação e valor”. Trazendo essas falas para o contexto do Idadismo e conectando com o explicitado pelo experimento acima, minha opinião é a de que enquanto ele for um preconceito que acomete uma em cada duas pessoas no mundo, conforme dados da OMS, haveremos de ter velhices adoecidas, cansadas, tristonhas, além de pobres em sua maioria. Nos EUA, apenas, calcula-se 1 a cada 7 dólares foram gastos por conta do Idadismo, ou seja, são 63 bilhões de dólares ao ano em consequência do idadismo!(1). No Brasil, não temos esses dados, mas imagino que, proporcionalmente, não devemos ficar muito longe.
Aqui, penso que cabe trazer o conceito do que é o Idadismo, pois eu, como profissional da área, “vivo na bolha”, mas talvez muitas pessoas ainda não tenham tido contato a esse respeito. O idadismo é definido pela Organização Mundial da Saúde como “um fenômeno social multifacetado como estereótipo, preconceito e discriminação dirigida contra outros ou contra si mesmo com base na idade”. Ele pode ocorrer com pessoas jovens, quando são consideradas jovens demais para realizar uma tarefa, ou com idosas, quando consideradas improdutivas, por exemplo. Conforme o Relatório Mundial sobre o Idadismo da Organização da Saúde – OMS/2022, ele é reforçado com o tempo. Assim, as emoções que aprendemos a sentir com relação ao passar do tempo e, em especial ao Envelhecimento, geram este preconceito e o comportamento na sociedade.
Essa semana causou repercussão no Coletivo POA Inquieta a divulgação de que a Longevida, consultoria especializada no envelhecimento da qual faço parte, em parceria com 46 Instituições de todo o país, fez o lançamento oficial da 2ª Edição do Glossário Coletivo de Enfrentamento ao Idadismo, num evento virtual com a Aula Magna da Professora Cecilia Minayo, Pesquisadora Emérita da Fiocruz e a participação de Pesquisadores, Ativistas e Especialistas (2). E o que esse Glossário tem de diferente? Ele foi construído colaborativamente com palavras, expressões, frases idadistas e depoimentos de situações sofridas por pessoas idosas das cinco regiões do Brasil. Nada sobre nós sem nós. Ele está disponível gratuitamente pelo link AQUI e acredito que traz na sua essência um potencial transformador, pois é uma ferramenta de educação para que futuras e atuais gerações de velhos possam refletir a respeito do que é ser velho/velha, como querem envelhecer, o que é idadismo, ressignificando as palavras e suas emoções com relação a elas e, a partir disso, suas ações a respeito do que é ser uma pessoa idosa, da importância da pessoa mais velha na sociedade e se entendendo como uma pessoa de direitos. Como dizia o Mestre Paulo Freire, “se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda”.
Notas
(1) Link para o ESTUDO sobre custos do idadismo nos EUA.
(2) link para quem quiser assistir ao evento virtual de lançamento do Glossário Coletivo de Enfrentamento ao Idadimo, realizado pelo YouTube da Longevida.
Karen Garcia de Farias é articuladora do Coletivo PoA Inquieta, Embaixadora do Movimento Lab60+, consultora na Longevida, consultoria especializada na área do envelhecimento. Graduada em Comunicação Social, Pós-graduada em Marketing pela ESPM, Pós-graduanda em Neurociência e Comportamento pela PUCRS. (foto Raquel Lau)