Fim de ano, hora de retrospectiva. E, como todo veículo que se preze vai fazer a sua, sobre seus temas de trabalho, vou focar a minha reflexão sobre 2022 em algo que conheço bem e que ninguém pode fazer com maior profundidade: eu mesmo.
Sim, eu faço piadas, surfo, trabalho como um cavalo, sou pai de adolescentes e de pets, marido da Gabriela e ainda tenho tempo para refletir sobre os impactos de minha existência no mundo e deste na minha fugaz existência. E, esse ano, eu tive muitos inputs para pensar. Trabalho, carreira, estudo e o que realmente faz sentido na vida.
Mas, como sei que meus leitores (todos os três) têm suas vidas para tocar, vou focar em apenas dois assuntos.
O primeiro deles é a amizade. Eu sempre fui um cara muito sociável. Viro amigo de infância rápido e mantenho amizades de décadas. Por isso mesmo, nunca tinha pensado muito no assunto.
Aquele “será que fulano é meu amigo?” não consta do meu rol de paranoias. Eu simplesmente estou lá para as pessoas e tenho como certo que elas estarão lá por mim.
Sou o tipo que se joga do palco jurando que vai flutuar nos braços da galera sem se esborrachar no chão, contando que os amigos verdadeiros serão os primeiros a me manter no alto. Até há pouco tempo, nunca dei atenção para os que viraram as costas no meio do mergulho. Eu só seguia em frente e fazia novos amigos.
Porém, a mudança para Portugal mudou esse aspecto. Algumas pessoas muito próximas trataram a nossa partida como ofensa pessoal. Cortaram laços e nos deixaram desgarrados no meio do movimento “ninguém solta a mão de ninguém”. Foram poucas, graças a Deus, mas doeu.
Confesso que estava bem desiludido com isso quando, certa noite, recebi uma ligação. Era o Marcelo Righetto, meu melhor amigo quando eu tinha 5 anos e ainda vivia em São Luiz Gonzaga. Ele estava aos prantos por ter achado um ferro de marcação da fazenda do meu avô e queria me contar que estava a guardá-lo para mim. Tudo bem, ele já estava um pouco mais emotivo que o normal, pois o vinho tem seus milagres.
Já não falávamos há pelo menos 20 anos, mas ele colocou o primeiro item nesta retrospectiva reflexiva: realmente a amizade de verdade – aquela que te quer bem, inteiro e em paz, onde quer que você esteja – resiste ao tempo e à distância. O resto é companhia.
E vamos ao segundo assunto: trabalho.
Neste ano, talvez pelo fim da pandemia ou pelo fato de estar oficialmente mais perto dos 50 do que dos 40, também refleti muito sobre minha carreira e que rumos quero que ela tome.
Eu sempre gostei de trabalhar. Até hoje, tranquilamente viro noite para fechar um projeto e faço isso contente. Dinheiro é bom, mas nunca foi o que me moveu. E vale ressaltar que sou um dos sócios-fundadores de uma empresa de tecnologia e comunicação que muito me orgulho e a qual me dedico inteiramente há quase 17 anos.
Nada disso mudou, mas em 2022 passei a pensar (muito) em me aposentar. Talvez por insistência da família e pelas brincadeiras de alguns dos meus pares que acham que em Portugal só têm militar reformado, comecei a pensar em uma forma de organizar esse momento que, para meus pais, significava limpar as gavetas na firma e ir para casa ver Sessão da Tarde. Não é o que eu quero, mesmo que não saiba exatamente como nem quando vou fazer isso.
Certamente, “se aposentar”, para mim, não quer dizer parar de trabalhar, mas sim, reduzir o ritmo. Quem sabe focar em projetos específicos e que me estimulem, atuando com pessoas que admiro. Tenho muitos destes profissionais já no meu cotidiano. Outros ainda não, mesmo que já estejam identificados.
Talvez eu só queira mudar de área, envolver-me mais com relacionamento puro ou até investir mais tempo em formação acadêmica. Sei lá. O que é fato é que em 2022 já comecei a investir muita energia nisso e estou colhendo os primeiros frutos por ter saído de minha zona de conforto.
De momento, posso dizer que para fazer meu plano de “fim de carreira”, estou pesquisando tudo que posso sobre como grandes atletas penduram as chuteiras. Obviamente sei das minhas limitações em termos de talento esportivo e capacidade de fazer as pessoas pagarem pela minha simples presença, mas entendo que eles são um bom benchmarking.
Afinal, preciso de exemplos de gente que sabe a hora certa de parar. Que controla a ganância e o ego e deixa uma posição exitosa com dignidade, construindo (e usufruindo de) um futuro com menos reconhecimento e um contracheque menor.
Enfim, no balanço do ano, tenho velhos e novos amigos cada vez mais próximos. Os que ficaram pra trás já são até passado. Boas companhias identificadas e sempre apreciadas. E muitos, muitos planos para trabalhar menos, melhor e cercado de gente bacana. Ou seja, uma aposentadoria “à lá Lobato”.
PS: também neste ano nasceu minha filha mais nova. É essa aí da foto acima, a primeira que dorme a noite inteira e não tem nenhuma alergia.