Era 2015 e pouco sabíamos sobre o mercado de consumo e o comportamento dos maduros no Brasil. As projeções do IBGE com base no Censo Demográfico de 2010 já mostravam o início da linha de crescimento da população com 60 anos ou mais. Cabe destacar que os dados utilizados até hoje são resultado daquele Censo e são a base, acrescidos de pequenos ajustes percebidos pelas PNADs. O fato é que os mais atentos e livres de preconceitos já sabiam que viveríamos esse boom do consumo e consumidores 60+. O assunto não era nada sexy para a indústria criativa na comunicação e desenvolvimento de produtos. Mesmo assim percebia como era importante conhecer melhor este público e trazer fatos novos e tangíveis dentro da linguagem e interesse do mercado era fundamental.
Junto com a Segmento Pesquisas, com o olhar e visão do Ramiro Freire, realizamos a primeira pesquisa sobre comportamento dos 60+ na Internet. Um “lugar” tão inesperado sob a ótica do mercado certamente traria uma riqueza de dados e informações que poderiam dar uma agitada no mercado. O que eles estavam fazendo lá? Como lidavam com a navegação nos sites, o que procuravam, quanto tempo ficavam on line nos computadores e como acontecia esta experiência nos smartphones que não eram mais novidade e já ofereciam uma quantidade interessante de aplicativos.
O Whats app já mostrava sua capacidade de crescimento entre os 60+, já que estava presente em 90% do dia a dia de quem possuía smartphone. O Facebook diante dos resultados surpreendentes acabou se mostrando um ambiente mais atraente para exploração e assim o fizemos. Descobrimos as motivações para uso da rede social e as descobertas acabaram se mostrando óbvias. Entre as principais motivações estavam acompanhar o que a família, muitas vezes distante como em grandes centros, estava fazendo. Lembre-se que o Instagram, que tinha apenas 5 anos de vida no mundo, tinha outro formato e mesmo entre os usuários mais inovadores era pouco utilizado. O Facebook com apenas 4 anos de operação no Brasil em plataforma em português já mostrou capacidade de crescimento espantosa. Além de dar uma “espiada” na vida dos seus familiares também apreciavam e ainda apreciam, segundo recente pesquisa que participei, a curadoria de conteúdo que seu círculo de amizades faz. As matérias, notícias e vídeos que indexam nos seus perfis. A “tribo” com interesses comuns trocando referências e interesses igualmente comuns.
Quando realizamos a pesquisa no final de 2015 encontramos 3,5 milhões de perfis com 60 anos ou mais na rede social. Foi um resultado inesperado pois sequer percebíamos com clareza o quanto um grupo, mesmo que pequeno diante da rede no Brasil, já estava lá usufruindo e experimentando o que era oferecido. Em relação à população 60+ na época, representava pouco mais do que 15%, mas convenhamos, três milhões e meio de pessoas em um lugar que sequer imaginávamos ser age friendly foi incrível.
Hoje, sete anos depois, a pesquisa tracking “Os 60+ no Facebook”, realizada a cada dois meses pela SeniorLab, encontrou quase 17 milhões de perfis 60+ ativos no Brasil. Um crescimento extraordinário em um ambiente em que o senso comum pensava ser hostil aos maduros. Mais uma prova de como a falta de referências e até o preconceito levam a miopia de mercado e oportunidades. Hoje é o grupo etário que mais cresce na rede social Facebook e onde temos mais avós e avôs dando um like nas postagens que gostaram.