No dia 10 de abril de 2025, ao completar 66 anos, decidi investigar o que significa chegar a essa idade. Logo de cara, me veio à cabeça a Rota 66, aquela estrada lendária dos EUA que, dizem por aí, a vida se renova a cada curva. Investiguei também as interpretações da numerologia e as visões das diversas religiões sobre essa fase da existência. Até encontrei umas piadinhas, tipo a de que 66 anos seria a idade mais “perigosa” porque Deus, olhando lá de cima, veria o número 99 e poderia decidir vir te buscar. Essa reflexão não significa que esteja me sentindo perdido ou desprovido de propósito, mas sim o desejo de compreender o que se espera de alguém aos 66 anos e a fazer uma análise de como estou vivendo.
A Rota 66, que liga a vibrante Chicago (céu do jazz e do blues) à descolada Santa Mônica, no condado de Los Angeles (a terra dos filmes e dos sonhos), tem uns 4.000 km de pura aventura. Essa estrada virou símbolo de liberdade – cenário de filmes como Bagdá Café, Hard Fish e até Carros, da Pixar – e foi lá que nasceram o primeiro motel e o primeiro McDonald’s do mundo, entre muitas outras atrações turísticas. Talvez o filme “Sem Destino” seja o retrato perfeito desse espírito aventureiro: a saga de dois amigos de moto que desafiam o mundo. Eu mesmo estive em Chicago, em Santa Mônica e curti alguns trechos da Rota 66, mas a aventura completa foi vivida pelo meu irmão, Paulo Nascimento, e o amigo Leonardo Machado, que em 2017-2018 realizaram a travessia de moto e produziram uma série de 12 episódios chamada “Sonho Americano” – com paisagens de tirar o fôlego e depoimentos que dão vontade de viajar (se quiser sentir essa vibe, confira o trailer no Youtube).
De acordo com a numerologia, o número 66 é aquele associado ao amor incondicional, sugerindo que cada tropeço, cada risada e cada perrengue na vida tem um propósito – seja para aprender, valorizar ou comemorar. Em termos espirituais, esse número remete à gratidão, ao amor-próprio e à prática da meditação. Já o número 666, que no Apocalipse é o número da besta e símbolo da maldade – esse definitivamente não entra na minha lista, já que não pretendo viver até lá!
Certa vez, uma amiga me falou: “O meu tempo é agora”, e isso me fez refletir que a expressão “no meu tempo era assim” não faz sentido. Afinal, o que seria esse “meu tempo”? Só quando era jovem? Quando virei adulto? Ou a velhice não pode ser também “o meu tempo”? Embora tecnicamente eu seja considerado idoso, não me sinto nem um pouco velho. Reconheço as marcas do tempo e me esforço para cuidar bem da saúde do corpo e, cada vez mais, da saúde da alma. Meu “sonho de consumo” é, quando for bem velhinho, ter autonomia, ser uma pessoa agradável e que todos queiram por perto, assim como foi a minha mãe.
Na juventude, o rock and roll era uma grande paixão, influenciando nossa geração não apenas na moda, nas atitudes, na linguagem, mas também nos valores. Hoje, continuo curtindo rock, mesmo que muitos digam que é “coisa de velho”. Assim como surpreendemos nossos pais com nosso estilo de vida, é natural que nossos filhos e netos desenvolvam seus próprios valores, gostos e modos de viver. Meu desafio é acompanhar as transformações do mundo sem ficar preso na nostalgia de “o meu tempo”.
Estou vivenciando na prática o que as pesquisas de Harvard recomendam: não é a fama, o dinheiro ou o poder que trazem felicidade, mas sim as boas relações. Escrevo esta coluna para agradecer, de coração, a todos os amigos e familiares que, com a sua convivência harmoniosa, fizeram com que eu chegasse aos 66 anos me sentindo verdadeiramente feliz. Ainda tenho muitos planos e sonhos, mas hoje priorizo cada oportunidade de encontrar pessoas que realmente aprecio. Obrigado por fazerem parte desse círculo de relações que moldou quem sou. Que possamos continuar convivendo, aprendendo, valorizando e celebrando cada curva dessa estrada louca que é a vida!
Referência:
Sonho Americano – documentário de Paulo Nascimento e Leonardo Machado, disponível na Prime Video – canal Box Brazil Play. Trailer disponível no Youtube
Todos os textos de Luis Felipe Nascimento estão AQUI.
Foto da Capa: Reprodução Filme Sonho Americano.