Fiquei pensando sobre a questão dos desastres ambientais e o quanto de informação está disponível de forma rápida e acessível, mas parece não fazer diferença no cotidiano da sociedade, e acabei lembrando do quanto a linguagem da sétima arte tenta, a todo tempo, nos mostrar o que já aconteceu e o que pode ou vai acontecer.
Talvez para tornar clara, de forma lúdica ou amena – outras vezes catastrófica – a mensagem de que, embora fora das telonas ou dos streamings, nós somos os atores que, na vida real, desempenhamos os papéis mais relevantes no roteiro da vida, mas que desperdiçamos facilmente as melhores cenas.
Acabamos por editar filmes com imagens grandiosas de tantas catástrofes, iludidos de que nossas ações depredadoras são verdadeiros filmes “blockbusters”, que gerarão sequências sem fim, batendo recordes de bilheteria com o desperdício de vidas humanas, animais, enfim, da própria Terra.
É como se a humanidade acreditasse que é possível ter tanta história para contar sobre “velozes e furiosos” acidentes ambientais, a ponto de não ter uma história final.
Quantos filmes já contaram sobre a humanidade e a incapacidade que temos de enxergar que o mundo não é nosso e, sim, nós é que somos dele, e à sua existência natural pertencemos.
Mas parece que nós, seres humanos, acabamos esquecendo que a vida é um filme ou, quem sabe, que a vida repete os filmes e vice-versa.
Quem lembra, por exemplo, do filme “Contágio”, de Steven Soderbergh?
Poucos. Mas a pandemia de Covid-19 todo mundo lembra, mesmo tentando esquecer. E o filme, no entanto, já contava sobre a ação do homem desmatando florestas e o encadeamento inevitável de consequências para todo o mundo.
A vida repetiu o filme ou o filme apenas vislumbrou a história possível?
Quem lembra do filme “Epidemia”?
Ninguém. Ou poucos. Mas deveríamos. Afinal, ele conta a chegada do vírus ebola também em razão de que o Homem avançou demais nas florestas.
Quem lembra do filme “Interestelar”?
Poucas pessoas? Talvez. Mas se lembrassem com consciência, certamente entenderiam que a busca por um novo lugar para sobreviver parte da premissa de que é o Homem o maior predador de si mesmo. E que, mesmo diante de uma possibilidade imaginária de continuação da vida humana, muito se perderá ao longo do caminho.
Enfim, não sei dizer o quanto de real há nas histórias que os filmes contam, nem tampouco se os “Bunkers” que alguns milionários estão construindo os defenderão da massiva investida que todos nós, de alguma forma, estamos fazendo contra o nosso próprio habitat.
O que sei é que a forma de viver que a sociedade como um todo tem escolhido tem nos trazido realidades catastróficas muito próximas das que o Cinema já mostrou.
E isso deve nos preocupar.
Afinal, somos nós os responsáveis por esse roteiro até aqui, mas não queremos saber qual o final desse filme.
Mildred Lima Pitman - sou Mulher, Mãe, Advogada. E agora, na maturidade, venho buscando, por meio da escrita, uma melhor versão de mim mesma.
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Foto da Capa: Filme Epidemia / Divulgação