A se confirmarem as informações de 10 entre 10 analistas políticos, teremos, já, já, um novo ministro-chefe da Secretaria de Comunicação da Presidência da República. Sidônio Palmeira assumirá o lugar de Paulo Pimenta, que não conseguiu temperar – na análise do próprio presidente Lula – as realizações do governo ao paladar da população. As pesquisas de opinião, no final do ano, mostram que a gestão Lula III deixa um certo amargor no gosto do eleitorado.
E olha que a receita servida pela cozinha lulista, no segundo ano do terceiro mandato, apesar do azedume da inflação, foi até doce e suave se comparada com a de outros períodos recentes, apesar do salgado preço do dólar no fim do ano. Só pouco mais de 6% dos brasileiros não conseguiram provar alguma fatia do bolo do emprego e a torta do Produto Interno Bruto cresceu, de acordo com cálculos oficiais, quase 4%.
Nada disso resultou em aprovação do governo. Pesquisa recente do PoderData mostra que Lula chega à metade do terceiro mandato com aprovação positiva de apenas 27% dos brasileiros. Os que consideram o governo ruim ou péssimo são 33%.
Em 21 de dezembro, o PoderData informou que a polarização Lula x Bolsonaro continua viva. Segundo a pesquisa, 39% das brasileiras e brasileiros consideram o governo Bolsonaro melhor que o governo Lula III. Para 37%, Lula III é melhor.
O levantamento, feito entre 14 e 16 de dezembro, também informa – e com certeza para desgosto maior de Lula e seus seguidores – que 21% dos pesquisados não notam diferença entre as administrações Lula III e Bolsonaro Única… Como sempre acontece, a culpa pelas notas baixas vai para o colo do pessoal da comunicação.
Já no dia 6 de dezembro do ano passado, Lula se queixava publicamente da comunicação. Naquele dia, o UOL contou que, numa conferência por vídeo, o presidente da República reclamou: “Nós desaprendemos a fazer formação porque o jeito de fazer política ficou mais institucionalizado, nós não conseguimos sequer ter possibilidade de utilizar a internet com o poder de alcance que ela pode ter…”
No mesmo dezembro, já sob a sombra de Palmeira, a Secretaria de Comunicação lançou a campanha publicitária Todo Dia a Gente Faz um Brasil Melhor, exaltando a queda no desemprego, o controle da inflação (com o que quase ninguém concorda…), o crescimento do PIB e lembrando a retomada do programa Minha Casa Minha Vida e o lançamento do Pé de Meia, que garante incentivos financeiros aos estudantes de ensino médio matriculados em escolas públicas.
No comercial, o governo reconhece que os indicadores positivos, por si só, não são o mais importante, mas garante que não vai descansar enquanto os benefícios da melhora na economia não chegarem a todos. A frase que encerra o vídeo é “a vida vai melhorar”.
Palmeira vai precisar de muitos sabiás cantando a mesma melodia para fazer o eleitorado entender que o Brasil melhora todos os dias, mas que a vida de cada um ainda vai melhorar, enquanto o coro estridente da direita grita que a culpa de tudo de ruim que acontece é culpa do governo e de Lula.
Agora, para fazer as boas notícias chegarem afinadas aos ouvidos do povo e fazer todo mundo cantar que a vida já melhorou, o novo Secom vai ter que afinar a própria atuação com outra área que anda um tanto desafinada lá no Palácio do Planalto: a da articulação política.
Tarefa difícil. Afinal, como conciliar e unificar discursos de 10, 12 partidos que, na maioria, são grupos de defesa de interesses regionais, corporativos e até pessoais que nada, ou pouco têm a ver com uma agenda de Estado, de Nação?
As dificuldades de articulação do governo ficaram claras em todas as negociações com o Congresso Nacional, principalmente no sensível imbróglio das emendas parlamentares, assunto tão ao gosto desse nosso Congresso Nacional, sempre ávido por recursos.
O ministro Alexandre Padilha, chefe da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República, está tão desgastado que já não tem nenhuma interlocução com o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira. Padilha é pedra cantada numa eventual reforma ministerial.
Nesta quarta-feira, mesmo sem ter sido ainda empossado na Secom, Sidônio Palmeira terá uma boa chance de mostrar que é possível unificar o discurso oficial e fazer a população entender que sob Lula III a vida já melhorou e vai melhorar. Vai ter comemoração em Brasília para lembrar a resistência da democracia e lamentar a tentativa de golpe no 8 de janeiro de 2023.
Como comunicar o evento? O ato, com a presença de Lula, dos ministros e – esperam os organizadores – dos presidentes da Câmara e do Senado e de representantes do Poder Judiciário, é exclusividade da esquerda? Ou é suprapartidário? Afinal, o governo Lula vai do PSOL ao PP e ao Republicanos que, há menos de três meses, andaram abraçados com candidatos bolsonaristas nas eleições municipais…
Todos os textos de Fernando Guedes estão AQUI.
Foto da Capa: Marcelo Camargo / Agência Brasil