Estávamos acostumados a ver uma tragédia pessoal de Messi nas últimas Copas do Mundo. O jogador eleito tantas vezes como o melhor não conseguia erguer a taça para o seu país. Saía de campo triste, abatido. Enquanto isso, era comum a transmissão cortar para a arquibancada e mostrar Maradona lamentando mais uma derrota.
O noticiário falava da situação emocional de Messi, de vômitos, de ansiedade. Somava-se ao diagnóstico da perda uma acusação de falta de sentimento e atitude de um autêntico argentino, já que Messi tinha deixado o país com treze anos e fez sua carreira na Europa, sobretudo na Espanha.
Mais uma vez o contraste com Maradona se acentuava, pois esse reinava como um mito vivo, símbolo da mais absoluta vitória do futebol e do povo argentinos. Restavam os debates se era maior do que Pelé, como o grande jogador da história.
Enfrentar o peso, a personalidade e a presença de Maradona não foi tarefa fácil para Messi. Seu estilo é o oposto. É introvertido, nada egocêntrico, mais concentrado em jogar do que em aparecer. Não parece precisar de holofotes e de súditos.
Nessa briga de grandezas, Maradona vencia. Impunha sua presença e, se sofria com a derrota da seleção argentina sem ele em campo, confirmava-se a cada tropeço a falta que fazia. Mesmo fora das quatro linhas, acaba sendo superior a Messi.
Romário, o craque da primeira seleção brasileira a conquistar a Copa depois da era Pelé, parecia saber muito bem como essa sombra precisava ser enfrentada. Escolheu como número de sua camiseta o onze. Carregava uma diferenciação e uma ironia. Pelé é dez? Romário é maior. É onze. Ainda: deixa a dez pra ele. Não vou disputar o seu reinado. Vou construir o meu.
Nas palavras, o baixinho também fez seu duelo com o rei. Quando Pelé aconselhou o camisa onze campeão do mundo a encerrar a carreira, Romário declarou “Pelé calado é um poeta. Quando abre a boca, só fala merda”.
Essa força para se contrapor ao maior ídolo do futebol de uma nação, Messi não conseguiu ter com Maradona vivo. Na primeira Copa do Mundo que disputou sem a presença de Maradona, Messi levou a taça pra casa.