Baixa autoestima, não pertencimento, medo, inferioridade, falta de representatividade dentre tantas outras coisas estão presentes na vida de grande parte da população negra. O que acaba potencializando os transtornos mentais principalmente ansiedade e depressão, inclusive o número de suicídios dessa população é altíssimo.
Dados levantados pelo Ministério de Saúde juntamente à Universidade de Brasília apontam um risco de suicídio 45% maior entre a população negra em relação à branca. De acordo com a pesquisa, o racismo é o principal agravante.
Trazer o tema à tona e entender que tais comportamentos são decorrentes do sistema escravocrata que subjugou e desumanizou nosso povo é primordial para que as desigualdades não sejam normalizadas e invisíveis pelos profissionais da saúde mental.
O papel do psicólogo é buscar informações sobre o tema, ou seja, ter uma postura antirracista e ter uma visão de acordo com os dados e teorias afro-centradas, para que consiga compreender as singularidades do paciente. Perceber os recortes raciais e suas interseccionalidades.
Você já pensou em uma mulher negra, trans, PCD? Onde ela está inserida em uma sociedade euro centrada, hétero normativa? Acredito que não tenha pensando nesses múltiplos recortes…
A maioria da população brasileira é negra, mas a invisibilidade permanece adoecendo essa população que geralmente não tem acesso a tratamentos psicológicos por falta de estruturação nas políticas públicas. E quando consegue esse acesso muitas vezes se depara com profissionais que não estão preparados para compreender o comportamento e a linguagem que impactam na vida social da população negra. Segundo o DIEESE, o percentual de psicólogos negros no Brasil é de 16,5%. Estes estariam em condições de compreender os comportamentos e linguagens “na pele”, porém, é um contingente bastante reduzido. Psicólogos não negros precisam ter a consciência antirracista, estudar autores negros (Lélia Gonzales, Neusa Santos Sousa, Frantz Fanon entre outros). São leituras primordiais e deveriam ser obrigatórias na formação dos profissionais da área.
Em seu livro “Pele Negra, Máscaras Brancas”, o psiquiatra e filósofo político Frantz Fanon relata: “ Vivemos em uma sociedade racista e adoecedora. Para que a saúde mental da população negra seja elevada em uma perspectiva de melhora e menor adoecimento, o sujeito negro tem que ser atendido nas suas necessidades que são atravessadas pelo racismo”.
A construção de uma psicologia antirracista deve partir das bases curriculares dos cursos de graduação, algumas campanhas já estão sendo realizadas nesse sentido, mas a passos de formiga e sem grandes vontades.
*Maiara Medeiros é mulher negra, mãe e psicóloga