Passei toda a última semana no Brasil, sendo parte em Porto Alegre e parte em São Paulo. Foi pouco tempo para fazer muita coisa – entre compromissos pessoais e profissionais – mas duas coisas “externas” me chamaram muito a atenção: a obrigatoriedade do uso de máscaras nos aeroportos e a retomada do interesse em reuniões presenciais, sem máscara, é claro.
Sei que em Portugal, o volume dos casos de Covid-19 não é mais representativo. A população está bastante protegida devido à aderência massiva à vacinação (incluindo as doses de reforço) e Covid ingressou no portfólio de doenças respiratórias graves a serem permanentemente monitoradas, especialmente no inverno.
Mas não tinha ideia de como estava a situação no Brasil. Por isso me dei ao trabalho de pesquisar sobre os números de infecções no País. Vi que mesmo estando perto de alcançar a triste marca de 700 mil mortes por Covid e ter tido um pico de casos em dezembro, os números estão estáveis desde agosto/setembro do ano passado. Não quero dizer com isso que 50 mortes diárias é pouco, mas como segue a obrigatoriedade das máscaras nos aeroportos, quis entender melhor as razões.
Antes de me aprofundar no tema, quero dizer que sou totalmente favorável às práticas de proteção e as restrições impostas para frear a disseminação de qualquer vírus. Só me causou estranheza a obrigatoriedade das máscaras nos aeroportos, já que são espaços amplos e que, em outros países, já não possuem qualquer restrição. Se no supermercado, no shopping, na loja de rua não precisa usar máscara, por que torná-la obrigatória no aeroporto? A meu ver, ou se aplica a todos os lugares (como na tolerância zero da China) ou a nenhum deles (como na Europa).
Consequência disso é que poucos “zé manés”, como eu, usam a máscara o tempo todo. Nem os profissionais das companhias aéreas, nem da segurança aeroportuária, nem do raio-x, ninguém usa máscara. No máximo, estão com a proteção no queixo, ao melhor estilo “se o chefe chegar, eu subo”.
Mas, se nos aeroportos a regra ainda é de cuidados como nos tempos da pandemia, fiquei surpreso com a retomada do trabalho presencial. Os escritórios voltaram com tudo e estão cheios de novo, como se fosse uma ressaca depois de tanto tempo produtivo de trabalho remoto. As pessoas voltaram a desejar estar no escritório, querem “investir” 2 horas diárias no trânsito para chegar em algum lugar do qual depois precisarão voltar. Fazem lá, com fones de ouvidos que garantem a sua concentração, o mesmo que fariam de casa.
Brinco com o tema, mas é a pura verdade. Todas as reuniões que tive, sem exceção, poderiam ter sido feitas remotamente sem qualquer perda de valor. E todas foram realizadas em escritórios cheios, sem ninguém com máscara e com os velhos transtornos pré-pandemia como achar uma sala de reuniões livre ou esperar pelo elevador lotado ao sair para o almoço.
Para quem é nômade parece que 2023 está se preparando para reunir o pior da pré-pandemia – inúmeras viagens de avião, salas cheias, filas, deslocamentos sem fim – com o que o Covid trouxe e queríamos deixar para trás – máscaras, regras sanitárias que não são seguidas e medo constante de ficar doente. Eis meu desafio para esse ano: me divertir também com o caos.