Ao relacionar a imagem acima com o conceito de Interface do Usuário podemos imaginar que se trata de uma solução carregada de tons de genialidade e de limitação tecnológica. Afinal, com tantas possibilidades e recursos o que levaria alguém a ocultar o botão mute, ou a sintonia de canais da TV digital? Incapacidade de lidar com a tecnologia, diria um desenvolvedor de interfaces.
Por muitos anos observei meu saudoso pai, Silvio, na época um octogenário, customizando os controles das TVs na sua casa. Mantinha apenas as funções que mais necessitava. Antes de 2014, quando mergulhei no mundo 60+ sob a ótica do marketing, design e negócios, até interpretava esta atitude como uma limitação tecnológica. As outras funções do equipamento poderiam causar receios ou medos. Normal para alguém que enfrentaria compreensível limitações na relação com a tecnologia.
Tudo mudou e ficou claro para mim a partir do dia que fui visitá-lo e ele estava sentado à mesa da sala lendo atentamente um manual com letras miúdas e difíceis de ler, com expressões técnicas e uma linguagem nada fluída. Era um smartphone que ele acabara de adquirir na loja da operadora. Até então ele tinha um celular de teclas, só para ligações de voz. Meu Pai, o cara que ao primeiro olhar parecia limitado nos aspectos de tecnologia, tinha comprado um smartphone. Fiquei muito curioso com as motivações que o levaram a “enfrentar” a tecnologia. “Quero ver o Emilio como vocês fazem no telefone de vocês” disse ele. Emilio era o primeiro bisneto dele e que mora na Austrália. Ele achava incrível interagir com seu bisneto usando o Skype na época, mas no smartphone dos outros. Ele desejava ter mais independência para ver e falar com seu bisneto na hora que bem entendesse. Resumindo a linda história que levou meu nível de entendimento sobre os 60+ e tecnologia a outro patamar. Ele aprendeu a fazer chamadas de vídeo pelo Skype, entrou no grupo da família no WhatsApp, assistia vídeos no Youtube e criou, com um pouco de ajuda, seu perfil no Facebook.
Está claro que a estratégia de anular alguns botões do controle da TV não era limitação tecnológica, era o mais genuíno pragmatismo em design com os recados: o que não ajuda atrapalha e para os 60+ menos é mais. Assim voltamos a User Interface 60+ Raíz relembrando que uma boa User Interface (UI) deve ser intuitiva, fácil de usar e agradável visualmente. Ela deve permitir que o usuário realize as tarefas desejadas de forma rápida e eficiente, sem causar confusão ou frustração. Isso melhora significativamente a experiência do usuário e aumenta a eficiência do sistema ou dispositivo. O conceito de UI remonta aos primórdios da computação, mas foi desenvolvido e popularizado por vários pesquisadores ao longo do tempo. Um dos primeiros trabalhos significativos na área foi realizado por J.C.R. Licklider na década de 1960, que defendeu a ideia de que os computadores deveriam ser mais fáceis de usar para permitir que mais pessoas os utilizassem. Ele foi um dos primeiros a sugerir que a interação entre humanos e computadores deveria ser mais natural, em vez de exigir que os usuários aprendessem comandos específicos de computador. Hoje a área de UI é, no meu ponto de vista, a mais importante área de estudo e pesquisa para aproximar o usuário das funções e funcionalidades oferecidas pela tecnologia no dia a dia.
Nos quase dez anos de atuação exclusiva no segmento do mercado e consumo 60+ na empresa que fundei, entendemos, aprendemos e criamos muito. Desde o inédito Conceito Aging in Market que consolida as boas práticas de pesquisa, marketing e design que devem ser incorporadas pelas marcas, produtos e serviços que descobriram que dependerão deste segmento para expandir negócios e no futuro breve, sobreviverem. Minha dica é: observe como os 60+ interagem com o mundo, com os equipamentos, com as embalagens e com os aplicativos. Como usam, como manipulam e como muitas vezes acabam trocando um produto por outro pelo simples fato de conseguirem abrir com segurança uma embalagem. Foi uma dica e o spoiler para o próximo artigo.