Sexo deveria ser um tema debatido, sem tabus, em todas as idades, mas veja a pressão que existe para retirar a educação sexual do currículo escolar. Entre os amigos mais chegados se fala de problemas de saúde, de doenças graves, de crises pelas quais se está passando, de dificuldades financeiras, mas dificilmente se fala de qualquer problema relacionado a relações sexuais. Aparentemente ninguém tem dúvidas ou problemas, ou se existem, não devem ser compartilhados. As pessoas ficam constrangidas de relatar suas dificuldades até mesmo para os profissionais da área da saúde.
Segundo a Dra. Carmita Abdo (1), a qualidade de vida depende de quatro pilares: convivência familiar, trabalhar no que gosta, lazer e fazer sexo com satisfação. Ela fala das teorias sobre como funciona o sexo. As relações sexuais se diferenciam em cada fase da vida e do tempo de convivência. Quando as pessoas estão se conhecendo, existe um gatilho, que é o desejo espontâneo, o interesse em fazer sexo, que é mobilizado por fantasias. Além do que o cérebro consegue imaginar, influenciam no despertar deste desejo os cinco órgãos do sentido: visão (se a pessoa é fisicamente atraente), audição (se está ouvindo uma música que remete a uma situação de encantamento), paladar (se está comendo algo que lembra um momento especial), tato (se recebe um toque e fica sensibilizada/o) ou se a outra pessoa está usando um perfume que remeta a alguma lembrança (olfato). Após despertar o desejo, vem o momento da excitação, no homem é representada pela ereção e na mulher pela lubrificação da vagina, que é uma preparação para a penetração.
Como funciona o corpo da mulher e do homem durante uma relação sexual? Depois de ambos estarem excitados, com a penetração aumenta ainda mais os batimentos cardíacos, se eleva a temperatura dos corpos até chegar ao orgasmo, que para o homem é uma descarga de tensão que dura entre 5 e 15 segundos e geralmente ocorre ao ejacular. Já o orgasmo feminino ocorre por meio de contrações dos músculos perivaginais e perineais que circundam a vagina, a intervalos de 0,8 segundos. Se estimulada, a mulher pode obter um segundo orgasmo ou tantos até a sua exaustão física e eles duram de 20 a 60 segundos. Depois da chamada fase de resolução, as alterações físicas ocorridas cessam e os corpos entram em estado de repouso.
O desejo espontâneo vai perdendo sua força ao longo do tempo e será substituído pelo desejo responsivo, que é a excitação estimulada pelo parceiro. Neste caso, a mulher não começa o ato desejosa, ela precisará receber um carinho, um toque, algo que que a faça sentir o desejo de ter a relação sexual naquele momento. Portanto, se você é mulher, não há nada de errado com você se, ao deitar ao lado do seu parceiro de longa data, não sentir vontade de transar. Se você for homem, saiba que não é mais como no início, agora você precisará estimular sua parceira para despertar o desejo de transar.
Existe ainda a influência negativa da TV, cinema e revistas, que mostram relações sexuais idealizadas, onde os casais atingem orgasmos maravilhosos ao mesmo tempo, onde se dá destaque para as lingeries, onde não existe transpiração, os parceiros são lindos e o ambiente é perfeito. Na vida real, de 25% a 35% dos homens possuem ejaculação precoce e apenas 65% das mulheres atingem orgasmo nas relações sexuais. O mundo fantasioso criado nas mídias é um dos fatores que leva mulheres e homens a se sentirem frustrados nas suas relações.
Quando se fala em sexo, remete-se ao padrão de sexualidade da nossa sociedade. Ou seja, quando nascemos nos é atribuído um gênero que está relacionado com o nosso sexo (tem pinto é menino, tem vagina é menina). Ao longo da vida, a identidade de gênero deste menino ou menina será de homem ou mulher e, por consequência, deverá sentir atração sexual pelo sexo oposto. Quando a pessoa se identifica completamente com o termo que lhe foi atribuído ao nascimento, se usa o termo cisgênero (mesmo gênero). Por ter atração sexual pelo gênero oposto no modelo binário, será então heterossexual. Quando a identidade de gênero coincide com o sexo biológico, denomina-se de “hétero-cis-normativo”.
E as pessoas intersexuais? E as pessoas que não se identificam com o gênero que lhe foi atribuído ao nascimento? Elas são chamadas de transgênero. E as pessoas que se identificam com o gênero que lhes foi atribuído ao nascimento, mas sentem atração por pessoas do mesmo gênero? E as que não se importam com a questão de gênero? E as que não sentem atração sexual por nenhum gênero? Podemos constatar que não cabe no sistema binário toda a variação de gênero e de orientação sexual existente. Os que não se encaixam no sistema binário, são chamados de minorias de gênero e estima-se que representem 14% da população brasileira.
O preconceito com esta diversidade sexual pode ser explicado pelo fato de até 1992 a homossexualidade ser considerada um transtorno mental e pelo conservadorismo da nossa cultura. Vale lembrar que ninguém opta por ser homo, hétero ou bissexual. Existe influência genética, do meio, histórias de vida, enfim, são muitos os fatores. Isto não é modismo e nem uma aberração da espécie humana. Em 2006, o Museu de História Natural de Oslo (Noruega) apresentou a exposição “animais gays”, exibindo cerca de 500 espécies em que existem relatos de comportamento homossexual, incluindo mamíferos, insetos e até crustáceos. Segundo o Dr. Giancarlo Spizzirri (2), todas as variações de gênero e orientações sexuais são igualmente saudáveis.
Por fim, a expectativa de vida vem aumentando e muitas pessoas já estão ultrapassando os 90 anos com boa qualidade de vida. Espero que a possamos envelhecer com saúde e tendo relações sexuais prazerosas, lembrando sexo é muito mais do que penetração e sem a necessidade de experimentar as diferentes posições (papai-mamãe, cachorrinho, 69, frango frito, túnel do amor, entre outros), mas sim de ser capaz de estabelecer uma satisfação sexual, onde o prazer pode estar nos preliminares e nas carícias que cada casal irá descobrir.
Fontes:
1.Café Filosófico – Comportamento Sexual: o que ficou no passado? | Carmita Abdo
2. Café Filosófico | Sexo e Gênero na Era da diversidade sexual – Giancarlo Spizzirri
3. BBC – News Brasil – Por que mulheres têm menos orgasmos do que homens?
4.Terra. Boa Saúde. Estágios da resposta sexual feminina