Começo com a frase do sociólogo polonês, criador do conceito de Modernidade Líquida, Zygmunt Bauman: “Estamos todos numa solidão e numa multidão ao mesmo tempo”. O que pode significar esta afirmação? Que não estamos sozinhos neste redemoinho da vida cotidiana? Até pode ser! Há muita gente ao redor. Mas na realidade andamos solitários em muitas situações porque caminhar no meio da multidão não significa estar verdadeiramente acompanhado. Falo daquela relação social estável que flui e acolhe nossa energia, tanto nossa força e alegria, quanto nossa diferença, fragilidade, medos e lágrimas em meio aos temporais. Falo da relação que não é fugaz, não é líquida e não se desmancha no ar.
É inegável que as mudanças que estamos presenciando em vários campos sociais apontam para a necessidade de solidez, especialmente de princípios éticos. Princípios que estão se perdendo tanto na política, como na educação e nas instituições, quanto nas relações pessoais e profissionais. Há instabilidade e inquietude tumultuando nossa respiração, geradas pelo excesso de demandas e negociações. Tudo é urgente, tudo é levado ao extremo, dos fatos mais banais e corriqueiros aos que realmente importam.
Onde vamos parar? O que nos move neste momento?
Por isso, vou agora para a “sociedade do cansaço”, do filósofo sul-coreano Byung-Chul Han. Neste ainda início de março de 2024, o cansaço envolve o excesso – de notícias, de análises, de campanhas orquestradas contra vacinas e de discursos protocolares, mastigados e remastigados diariamente. Mas há que se considerar também o cansaço da falta, que assusta e dói – falta de respeito pela educação, pela arte, pela diversidade que nos constitui, fundamentais em uma democracia. Os episódios recentes relacionados ao livro “O Avesso da Pele”, de Jeferson Tenório, que já comentei neste espaço, mostram uma ignorância absurda de diretores de escolas e dirigentes políticos. Posturas lamentáveis que escancaram o preconceito que ainda reverbera de forma agressiva e assustadora entre nós. E isso é todos os dias! O que motiva tanta irracionalidade e tanto racismo?
Ao sentir que em algum momento precisamos nos proteger das avalanches do excesso e do vazio provocado pela falta de uma voz acolhedora e firme, a sensibilidade da escrita do mineiro Altair Sousa, me resgata. Altair é um poeta do cotidiano que acompanho faz algum tempo e que é inspiração e estimulo para que eu me reconheça como uma pessoa da “estirpe-balão-cheio-de-emoção”.
– “Sutura-se de gente que tenha um bom coração / Porque não nos curamos expondo as nossas feridas às moscas varejeiras / O que andamos necessitando é de mais curativos, de paninhos d’água fresca sobre as nossas febres / De chazinhos calmantes, em xícaras de porcelanas, quando mais angustiados nos sentimos / Afaste-se de toda gente agulha, / Se você é da estirpe-balão-cheio-de-emoção”.
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Foto da Capa: Freepik