O ex–presidente Jair Bolsonaro teve a sorte, até agora, de ter registrado sintomas leves quando contaminado por uma das variantes do Coronavírus que tantas vítimas fez no mundo inteiro. Mas já sofre e vai continuar sofrendo, por um bom tempo, os efeitos colaterais de um vírus que, se não provoca dor física, pode destruir aspirações e carreiras políticas mal encaminhadas.
Inebriado pelo uso quase permanente de doses exageradas de presunção de impunidade, desinformação, fake news e negacionismo e sem a proteção da máscara do poder, Bolsonaro transmitiu esses hábitos a assessores e filhos.
Agora, todos foram alcançados pelo vigilum vírus (vírus policial em tradução do latim) que já nas primeiras horas provoca sensação de impotência, desespero e até dificuldade de raciocínio, que fica clara quando o ex-presidente é confrontado com a informação da existência de um cartão de vacina com o nome dele.
Bolsonaro continua afirmando que nunca tomou vacina nenhuma contra a Covid. Sobre o cartão ele nem pisca. O que deixa uma dúvida no ar: isso é confissão de culpa? Ou o ex-presidente finge não ouvir nada sobre a falsificação para deixar no colo do ex-ajudante de ordens a responsabilidade pelo malfeito?
Também embriagado de presunção de impunidade e, quem sabe, estufado de puxa-saquismo, o coronel Mauro Cid (foto da capa), o faz tudo do ex-presidente, nem se preocupou em elaborar melhor o plano de produção dos cartões de vacina para o chefe, para si mesmo e para a mulher e as filhas. A certeza da impunidade era tanta, que Cid nem se preocupou com datas. Registrou que a filha mais nova fora vacinada quando os remédios ainda não estavam liberados para menores de 18 anos… Está preso. Pelo menos, estava preso até a madrugada do sábado, 6 de maio, enquanto escrevo este texto.
Me parece claro que os efeitos colaterais dessa, para dizer o mínimo, trapalhada da falsificação dos cartões de vacina vão muito além das pessoas alcançadas pela operação da Polícia Federal. Bolsonaro, Cid e outros vão se explicar nos tribunais. Mas todo o organismo da direita extremada que brotou no rastro da Operação Lava Jato está contaminado e vai encolher, como acontece com qualquer organismo adoentado a espera de um antídoto para o mal que o aflige.
É cedo ainda… sei que é muito cedo. Afinal, o governo Lula III recém começou e ainda não dá para saber como estará em 2026. Mas um prognóstico eu acho que dá para arriscar. Essa extrema direita, que nasceu aparentemente forte em 2018, foi desidratada durante o governo Bolsonaro e, fato inédito, não conseguiu a reeleição, vai chegar na próxima campanha, não como a enorme onda que se presumia em 2018, mas como uma marolinha daquelas que a gente pula com facilidade na noite de Ano Novo.
É muito mais consequência das investigações da Lava Jato, que gerou uma onda antipetista, do que um movimento com conteúdo ideológico consistente. E movimento político sem raiz forte não floresce. Tem vida curta. O líder, que dá nome ao movimento, tem muito a explicar ao povo que o elegeu e aos tribunais. Você, candidato, quer Bolsonaro como cabo eleitoral? Na época da campanha ele pode estar inelegível…
O Brasil já teve o getulismo e tem o lulismo. Dá para comparar os dois – julgamento de mérito do Getúlio e do Lula à parte – com o capitão Jair Bolsonaro?
Para encerrar, no meu entender, a direita já está – como sempre esteve antes de 2018 – dispersa e pegando abrigo nesses grupamentos de defesa de interesses setoriais, regionais e até pessoais que muitos chamam de partidos políticos.
Foto da Capa: Secom