O começo de um novo ano quase sempre desencadeia em cada um de nós aquela sensação de oportunidade. Somos atraídos pela ideia de renovação e invadidos pelo entusiasmo de nos comprometemos a fazer mudanças que já adiamos inúmeras vezes ou que já tentamos e desistimos pelo caminho.
Alguns desejos de fim de ano já são nossos velhos conhecidos: perder peso, iniciar uma atividade física, aprender algo novo, economizar dinheiro, ser mais atencioso com aqueles que nos rodeiam, procrastinar menos, realizar mais.
Entre os dias 31 de dezembro e 1 de janeiro entramos em um universo paralelo único e assumimos fervorosamente estes compromissos com a esperança da transformação iminente.
Em momentos assim, me lembro de quando era criança e adorava assistir os episódios de Jeannie é um Gênio. A ideia de piscar, entrar em uma garrafa, bolar um plano e ter tudo resolvido me parecia bastante sedutora. Sempre que precisava eu fazia igual a ela: cruzava os braços, piscava forte e mentalmente me transportava para dentro da garrava de vidro cor de rosa, cheia de almofadas coloridas. De lá eu só saía com uma solução. E dava certo.
Era fantasia infantil? Pode ser que sim, ou talvez nem tanto. A psicologia positiva e a neurociência hoje explicariam esse comportamento com teorias bem assentadas.
O tempo passou, me distanciei da Jeannie e em diversas ocasiões as coisas não saíram tão bem como gostaria. Voltei a pensar nela de alguns anos para cá.
A verdade é que a concretização das resoluções do novo ciclo que se inicia ao virar a página do calendário requer mais do que entusiasmo momentâneo. Exige comprometimento diário, persistência e, acima de tudo, a compreensão de que as mudanças genuínas vêm de dentro (da nossa garrafa). É fácil almejar transformações externas, mas é na nossa atitude e no nosso interior que as raízes das mudanças verdadeiras se encontram.
Com o tempo, aprendi que a chave não está apenas em estabelecer metas, mas em dar a elas o devido peso e importância. Percebi que a felicidade não está em cumprir todas as resoluções, mas sim em encontrar equilíbrio. Às vezes, a verdadeira mudança está em reconhecer o que já alcançamos e em apreciar as pequenas alegrias do dia a dia.
A maturidade me presenteou com a clareza de que o ano novo pode trazer novas oportunidades, mas é o modo como encaro e nutro essas oportunidades que irá moldar minha jornada. Não basta apenas as resoluções escritas no papel, mas sim a persistência, a sabedoria e a compreensão de que o tempo é muito mais do que uma sucessão de datas.
Os anos mudam, mas algumas coisas permanecem, não por falta de tentativa ou desejo, mas porque esquecemos a essência por trás desses objetivos. Olha a Jeannie aqui de novo me mostrando a necessidade de recolhimento e de reflexão sobre o passado para poder estabelecer novas intenções e reforçar a busca pela felicidade e pelo bem-estar.
Por isso, desejo que o último badalar da última meia-noite siga ecoando em nossas cabeças anunciando não apenas o início de um novo ano, mas o nascimento de um novo “eu” que irá cumprir promessas, realizar sonhos e manter as resoluções, nem que para isso seja preciso passar algum tempo relaxando de barriga para baixo, com as mãos apoiadas no queixo dentro da tal garrafa de vidro.