Tive um dos meus melhores Réveillons dos últimos anos. A passagem deste ano celebrei com amigas num misto de Ceia e Festa do Pijama.
A nossa Ceia foi tão cheia de histórias e risadas que só percebemos a chegada da meia-noite porque os fogos começaram a estourar pela cidade. Não tinha nada de carne porque havia veganas entre nós, muita fruta e pouca coisa que desse trabalho para ser preparado. Uma ambrosia, que tinha sido enviada de presente de Natal, e um pavê que era de comer pelas Deusas e Deuses.
Depois, foi a vez de se espalhar pelos sofás e colchão na sala para assistir aos filmes na madrugada. Entre um filme e outro, a gente dormiu, tomou café, almoçou e seguiu o 1º dia de 2025 se divertindo muito! E se emocionou e refletiu sobre o que cada filme, de bom e de ruim, nos ensinou.
De Oito Mulheres e um Segredo, a gente extraiu do filme a lição de sororidade daquelas oito personalidades totalmente diferentes que conseguem realizar seu objetivo, utilizando-se da invisibilidade pelo fato de serem mulheres numa sociedade encabeçada por homens. No Prime Vídeo.
Em Sabor da Vida, percebemos mulheres servindo aos homens ao longo de todo o filme. Mesmo que eles a todo momento elogiassem a personagem principal pela comida maravilhosa apresentada, demonstrando seu apreço. Ao longo do filme, era ela quem estava esperando o sorriso, o aceno, numa posição de subalternidade, dependendo de aprovação, e as mulheres em geral. No Prime Vídeo.
Em Moana 1, entendemos que a insuficiência é parte da vida e ir atrás do que acreditamos ser importante para nossa paz. Que a rede de apoio é importante, mas que há momentos em que a resposta tem que vir da gente mesmo, com consciência do próprio valor. Está disponível na Disney Plus, Prime Vídeo, Apple TV, Google Play.
Da Escola do Bem e do Mal, aprendemos que ninguém é totalmente bom nem mau. Até na Escola do Bem se fazem maldades e na do Mal se efetuam gentilezas. E que a nossa visão, cada vez mais polarizada do mundo, tem necessidade de compreender que somos 50 tons de cinza. Além disso, também adoramos que o filme se trata sobre a força da amizade feminina, apesar do desenrolar romântico. Assista na Netflix.
Constatamos que é possível aprender a partir de qualquer tipo de filme, se retirarmos os estereótipos e os preconceitos que temos a respeito do que é “superior”. Penso que para aprender é necessário querer enxergar de maneira crítica, aberta, mas acolhedora, qualquer filme ou série que assistimos, livro que lemos, obra de arte com a qual temos contato, ou seja, lá com o que a gente venha a se conectar.
Glamo(u)r?
Não viajamos, não estávamos na praia, em nenhum lugar badalado, esquecemos de tirar foto, a Ceia foi feita quase toda por nós mesmas e, mesmo simples, essa passagem de ano foi uma das melhores dos últimos anos para nós. Por quê? Tinha afeto, riso, cumplicidade, espontaneidade, amizade.
Seria legal ter viajado? Sim! Seria bacana ir pra um destino cheio de luxo? Claro! Eu curto! Mas… isso basta? Se fosse pra escolher, o que importaria mais? Eu tenho a minha resposta. Você tem a sua?
Em tempos de vidas virtuais, quando passamos muito tempo rolando o feed de amigos e desconhecidos nas redes sociais ostentando sucesso, beleza, fama, luxo, saber essa resposta pode ser crucial para entender o que nos acontece quando bater aquela dor da inadequação, do vazio, da inveja e como superá-la.
Resolução Marombada
Uma das resoluções de algumas entre nós foi a de ficar “marombada” em 2025. Imagino que deva ser uma resolução de muita gente em início de ano. Como nenhuma de nós tinha menos de 40, o motivo foi o de adquirir um estilo de vida mais saudável para um futuro envelhecimento ativo, com menos limitações. E conversamos bastante sobre isso, pois para viver bastante e de maneira saudável não precisa ser maromba, ter braço durinho, barriga tanquinho, nem bíceps de 60cm.
Há toda uma ideia, vendida pela “indústria da saúde”, que mostra pessoas de 70, 80, 90, 100 anos correndo, malhando, nadando, fazendo atividades como se fossem “novinhos” e transmitindo a ideia de que se você se esforçar também é capaz de chegar lá. E isso não é verdade. Eles são exceções. Por favor, não caia nessa balela.
A atividade física é, sim, fundamental para um estilo de vida saudável. Porém, para ser saudável, você não precisa atender ao padrão “fitness maromba bombada/o”.
E aí, há muita gente que diz que chegou a um determinado padrão apenas com dieta e exercício, suplementos naturais, mas que na verdade se utilizou de uma série de procedimentos para atingir aquela forma, fazendo com que as pessoas se sintam insuficientes, inadequadas, incapazes de atingir o padrão.
Mudando de saco pra mala, pero no mucho
Sigo o podcast Ciência Suja, que apresenta assuntos sobre fraudes científicas que geram ou geraram prejuízos para a sociedade. O último episódio de 2024 trata do popularmente chamado “chip da beleza” ou “chip da saúde” que tem invadido muito consultório médico com a justificativa de rejuvenescer, aumentar a energia e o vigor físico, o desejo sexual, diminuir efeitos da menopausa, resolver problemas da endometriose, etc. Nele é esclarecido que os tais chips nada mais são do que anabolizantes, que produzem bombas relógios nos corpos que os consomem. Por favor, escute aqui. Serviço de saúde pública.
Fernanda Torres: Vamos com calma, que o andor é de barro
Na segunda-feira pela manhã, acordei com a notícia maravilhosa da conquista do Globo de Ouro na categoria de Melhor Atriz de Drama pela Fernanda Torres (assista ao discurso dela aqui). E o clima no país foi de feriado nacional, final de Copa do Mundo. Adorei cada meme que vi. Me diverti horrores. Confesso que passei mais tempo do que o permitido nas redes nesse dia.
Mas, ao final do dia, também acabei preocupada. Assisti discursos como se essa premiação fosse salvar a cultura brasileira. Falas de que o filme vai alterar a forma como a ditadura será percebida pela sociedade em geral. O auge foi quando vi um post no Insta anunciando “O que a vitória da Fernanda Torres no Globo de Ouro pode te ensinar sobre seu processo de emagrecimento?”
Gente, menos, né? Deixem a mulher em paz! Ela, com mérito próprio, de toda a equipe da Globoplay, das empresas que fizeram a comunicação e o marketing do filme junto aos participantes da premiação, conquistou O Globo de Ouro, merecidamente!
Vamos aplaudi-la, sem ficar colocando pressões sobre outra premiação, como se não fosse suficiente essa conquista, grandiosa, que ela alcançou.
Somos insuficientes
Aliás, chorei ao assistir ao discurso da Demi Moore, a ganhadora do Globo de Ouro na categoria de Comédia (mistério do motivo pelo qual inscreveram o filme Substância nessa categoria, pois está mais para criar sustos e nó no estômago do que riso solto). Ela se colocou tão vulnerável ao contar sobre sua trajetória, que também reflete a nossa história, mulheres, que somos tão cobradas a atingir padrões inatingíveis, que acabamos por nos sentirmos insuficientes pra tudooo. Então, a partir do conselho de uma amiga, ela se deu conta de que todo mundo é insuficiente e de que é necessário baixar a régua e se dar conta do nosso valor pra seguir em frente. E o resultado foi o trabalho incrível no filme Substância. Se você ainda não assistiu, aproveita, já está na Apple TV e Amazon Prime.
Um ano
Hoje, 9 de janeiro, faz um ano que infartei. Um marco na minha vida. Consegui, nesse tempo, fazer grandes mudanças que me julgava insuficiente. Como a Demi Moore, reconhecendo minha insuficiência, acreditei no meu valor e, como a Moana, mesmo com toda a rede que me rodeia, precisei fazer por mim mesma o caminho. Seja bem-vindo 2025!
Todos os textos de Karen Farias estão AQUI.
Foto da Capa: Divulgação / Oito Mulheres e um Segredo