Essa semana vivemos o impacto do anúncio da separação do casal Sandy e Lucas Lima, após 24 anos de relação. E detesto ficar aqui especulando as razões disso ou daquilo. A questão que gostaria de compartilhar contigo é do sentimento de frustração que ouvi a respeito: “Eles eram o casal perfeito”, “Se eles terminaram, casamento nenhum tem salvação”, “Amor verdadeiro não existe”, e como isso muitas vezes nos leva para um pensamento de que o tempo passado junto não foi bom, não valeu a pena. Não foi feliz. Como se porque o final da relação foi uma separação, toda a jornada dela foi um fracasso. Será? Afinal já disse o Poeta: “Que seja infinito enquanto dure”.
A revolução do divórcio grisalho
Olhando para os números, mais de um terço das pessoas que estão se divorciando nos Estados Unidos tem mais de 50 anos, fenômeno que já ganhou até nome, “revolução do divórcio grisalho” . Aqui no Brasil, conforme o IBGE, 25,9% dos divórcios ocorreram com pessoas 50+.
De acordo com as pesquisas de Mirian Goldenberg, pesquisadora, professora titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro e escritora, na maior parte das vezes são as mulheres que querem o divórcio. O aumento da expectativa de vida, a chegada da aposentadoria e da menopausa, a maior independência feminina, a saída dos filhos de casa, a redução do número de filhos, a possibilidade de ter mais escolhas na maturidade, a diminuição do estigma da mulher sozinha ou separada, o desejo de realizar novos projetos de vida e de ter relacionamentos mais satisfatórios, a traição masculina, a percepção de que desperdiçaram a vida em um casamento infeliz, são alguns dos motivos apontados por elas para se separarem após décadas de união. Especialistas americanos também apontam que, no geral, as pessoas mais velhas que fazem parte de casamentos longevos, sentem que os anos de vida que restam são preciosos demais para gastar com a pessoa errada. Porém, nessas relações a transição financeira não é fácil.
Você já teve, ou ainda tem, um amor que “deu certo”?
Será que toda separação é fruto de um casamento fracassado? Afinal, há relações e relações. Dentro deste projeto de felicidade que a gente aposta em cada relação, sejam amores que atingem semanas; outros – talvez – que irão até a morte. Então, minha opinião, é a de que haverá lindas histórias de amor que poderão ser contadas mesmo após suas separações. Amores que deram certo até o dia que terminaram, ou que se transformaram em outro tipo de amor, amizade talvez?
O casamento de uma vida inteira
A Miriam Goldemberg, sobre quem já falei aqui anteriormente, esses dias publicou no perfil dela no Instagram um post sobre uma relação que, na sua opinião, “deu certo”, o casamento da Lidiane e Tony Ramos, juntos desde 1969. Nele, ela cita uma declaração do Tony Ramos, que conta a fórmula para o seu casamento dar certo: “Amor, muito amor. Muita transpiração, muita vontade de pegar na mão, muita vontade de estar junto. Olhar no fundo dos olhos daquela companheira dos momentos mais difíceis. Essa é a verdadeira razão de um casamento sem receita. Apenas deu certo, por amor, afeto e calor. Nada é maior do que eu chegar depois do trabalho e ela estar lá na sala, vendo alguma coisa na TV. Eu tomo banho, estico a cabeça naquele colo, recebo um beijo, e ali eu vejo definitivamente o grande amor da minha vida”.
Homens são de Marte, Mulheres são de Vênus?
Essa, no geral, é o tipo de relação que nós mulheres fomos educadas a buscar e a sonhar. Um homem para a vida inteira. Hoje, graças as muitas mulheres que vieram antes de nós, sabemos que descasar deixou de ser tabu. Nas suas pesquisas, Mírian Goldenberg aponta que as mulheres falam que o amor precisa de intimidade, escuta, conversa, companheirismo, admiração, respeito, reconhecimento e reciprocidade. Já os homens querem um amor com leveza, carinho, cuidado e compreensão. No meio disso tudo, há que existir muito diálogo para que as expectativas de um e de outro lado possa ser atendidas (ou não) e compreendidas. Não havendo, a insatisfação é garantida. E, talvez, a separação seja o melhor caminho. Para avaliar, entender, superar… Já existe quem faça disso uma profissão, a Doula de Separação, sabia?
É o melhor índice, mas é péssimo
A ONG Think Olga divulgou o resultado da pesquisa Esgotadas, feita com mulheres brasileiras a respeito do que tem causado sofrimento e insatisfação nelas e de que forma elas tem cuidado da sua saúde mental. Ao perguntar sobre o índice de satisfação com relação as áreas da vida, a área que as mulheres pontuaram mais alto foi a relação familiar e amorosa. De 1 a 10, as mulheres deram 3,2 (ou seja, uma insatisfação de quase 70%) para sua vida familiar e amorosa. Vamos convir que ficou faltando muito para dizer que é um bom índice, né?
E a traição?
Recentemente soubemos da separação do casal Luiza Sonza e Chico Moedas, causado pela traição deste último. Agora, vive-se a iminência da separação de outro casal famoso, “Menino” Neymar com Bruna Biancardi, grávida de sua primeira filha, pelo segundo episódio de traição, dessa vez em uma boate espanhola. E tivemos outros casos de traição de casais famosos, como Shakira, Preta Gil, Miley Cyrus. A diferença? Todas elas, apesar do medo do julgamento alheio, da dor, da vergonha, expuseram seus companheiros. E quem tem que ter vergonha é quem trai e não quem é traído. O contrato de confiança é quebrado por quem trai. A dor não é medida pelo tempo da união, seja ela de semanas, meses ou anos, mas pela quebra do acordo de fidelidade e o amor depositado na relação. E, como disse uma mulher que já viveu uma traição, “já perdi e já voltei a crer várias vezes, porque o amor está em mim, não no outro”.
Novos contratos?
É possível criar novos modelos de união afetiva? Muito tem se falado em casamentos não monogâmicos. Penso que, desde que as regras sirvam e sejam usufruídas igualmente para as duas partes e não apenas para satisfazer a fantasia masculina de pular a cerca sem culpa, é válido para o casal que sentir-se confortável nesse modelo.
É claro que outros arranjos são possíveis, considero justa toda forma de amor se TODAS as partes estiverem absolutamente conscientes das regras e confortáveis com elas.
Celibato
Um fenômeno que identifico do meu convívio com diversas mulheres mais velhas é o do celibato voluntário. Mulheres que, por opção, não querem mais envolvimento amoroso com ninguém. Preferem permanecer sozinhas, mas não solitárias. Preferem investir sua energia e tempo com atividades com suas amigas, família ou com elas mesmas. E para elas, se for o caso, sempre haverá os brinquedinhos para lançar mão.
Vida que segue depois que acaba
Nós, mulheres, apesar da angústia e do esgotamento que nos atravessa diariamente, por diversas áreas das nossas vidas, seja a do trabalho, a financeira, a da pressão pela beleza e juventude, ao cuidado com a casa e os filhos, com relação a nossa vida afetiva, numa perspectiva histórica, temos nos colocado de maneira corajosa. Muitas vezes sem sequer saber do que se trata o feminismo, lutamos pelo direito a voz, autonomia, reconhecimento, merecimento e igualdade nessas relações. E, quando percebemos que não adianta investir mais e acaba a esperança, aprendemos que a fila anda.