Há exagero aí no título? Se você lembrar que cada palavra digitada, cada informação pesquisada, cada compra efetuada, cada recado mandado, cada texto publicado, cada like dado, vira insumo para as grandes plataformas online, para as redes sociais, verá que não há exagero. Já temos até um novo “gerente de RH” nessa nossa relação com a indústria da Tecnologia da Informação. O nome dele é ChatGPT. Ele se apresenta como o gestor de toda e qualquer coisa que você precise saber, ou quer transmitir e, com menos de dois meses de funcionamento, em janeiro deste ano, já tinha 100 milhões de “colaboradores”…
Esse chat (o?) se mostrou tão poderoso que até seus criadores decidiram, em carta que chamaram de Future of Life, colocá-lo na geladeira junto com todas as pesquisas sobre Inteligência Artificial. Aliás, sobre esse documento dos donos e pesquisadores das Bigh Techs, olhe só o que diz, em matéria publicada neste domingo, 16/4/2023, no Estadão, Timnit Genbru, ex-funcionária do Google, especialista em ética da inteligência artificial, também a mostrar que nosso título não está esquentado:
“A carta do Future of Life não aborda danos atuais desses sistemas de inteligência artificial, como exploração em massa de trabalhadores, roubo massivo de dados para criar produtos que são lucrativos para um punhado de entidades; a explosão de mídia sintética no mundo, que simultaneamente reproduz sistemas de operação e coloca em perigo o nosso ecossistema informacional; e a concentração de poder nas mãos de poucas pessoas, o que aumenta desigualdades sociais.”
Pois é… enquanto aqui no Brasil a regulação das redes ainda está meio parada pelo temor de que isso fira o direito à liberdade de expressão, muitos países já criaram regulamentos para garantir direitos individuais de seus cidadãos, com punição rigorosa de quem descumprir a lei. Isso, sem falar em regulação da mídia, que já existe na nossa vizinha Argentina, nos Estados, no Canadá, em Angola, na França, em Portugal, no Reino Unido…
E, se você perguntar, por exemplo, ao ChatGPT, se ele consegue saber quando uma informação é mentira, ou se ele sabe quando a resposta dada por ele vai ser usada por um criminoso, terá argumentos para apressar a regulação do uso da IA. Olhe só as duas singelas respostas do GPT:
Embora possa detectar inconsistências ou discrepâncias nas informações fornecidas não sou capaz de determinar com certeza se uma informação é mentirosa ou não, pois isso exigiria a compreensão do contexto social e histórico em que a informação é fornecida, além de conhecimentos específicos sobre o assunto abordado.
A outra: Como um programa de computador, eu sou projetado para fornecer informações precisas e imparciais com base no que eu aprendi em meu treinamento. No entanto, eu não posso garantir que as informações que distribuo nunca serão usadas por criminosos. É importante lembrar que o uso de informações para fins ilegais ou antiéticos é uma questão de escolha e responsabilidade dos indivíduos.
Antes de seguir, abro parênteses para contar que fiz ControlC, ControlV nas respostas. E vocês já viram, pela falta de algumas vírgulas, que o GTP não recebeu muitos treinos sobre pontuação…
De volta. É preciso parar, logo, com essa história de que a regulamentação pode limitar o direito à liberdade de expressão. O governo federal, o Congresso Nacional e o STF já se deram conta de que está mais do que na hora de o Brasil regulamentar o uso e o funcionamento das redes sociais, das plataformas de Inteligência Artificial.
O ministro da Justiça, Flávio Dino (PSB), diz que o governo prepara um projeto de lei para ser enviado ao Congresso. Na Câmara, o deputado Orlando Silva (PCdoB) relata um projeto de combate às fake news. O presidente do TSE, ministro Alexandre de Moraes, prepara um relatório, com ênfase na transparência no uso dos algoritmos, no engajamento maior e na monetização das redes sociais para ser enviado à Câmara dos Deputados.
Não importa qual seja a informação, se está ganhando dinheiro, tem que ter responsabilidade pela informação, diz o ministro do TSE em matéria da Agência Brasil.
E é isso. Se não formos capazes de criar uma legislação que garanta esse direito à liberdade de expressão, mas imponha regras para o uso dessas ferramentas tecnológicas – que muitos usam como armas de disseminação de ódio e desinformação – então a nossa sociedade vai pior do que isso que se vê por aí, com bandidos infiltrados em tudo, com crianças matando crianças, gente açoitando gente…
Foto da Capa: Magnus Mueller/Pexels