Assisti no canal Bis ao documentário “A Free Man”. É uma biografia do cantor e compositor inglês Sting. Documentários sobre artistas, quando bem realizados, nos mostram ângulos que vão além da imagem dominante que se tem, formada pelo que conhecemos de suas carreiras.
Com o The Police, ele estava entre as minhas bandas e músicos internacionais de que gostei de ouvir na segunda metade dos anos mil novecentos e oitenta, ao lado de The Cure, Prince, B 52, por exemplo.
Tem mais de cem milhões de discos vendidos e recebeu dezesseis prêmios Grammy. A narrativa do doc mostra como Sting durante toda sua trajetória como músico vai abrindo mão de ficar parado no mesmo lugar que tinha conquistado. Depois de seis anos como baixista e vocalista do Police, no auge do sucesso da banda, ele parte para uma carreira solo. Mistura sonoridades, tocando com músicos de jazz dos Estados Unidos.
Explora territórios além do rock e do pop, da canção francesa à música árabe. Alarga suas fronteiras como personalidade da cultura e do ativismo pelo mundo. No Brasil, abraça a causa da ecologia e dos povos originários, ao lado do cacique Raoni. Recebeu homenagem e diploma honoris causa da Universidade Brown por suas ações em defesa da preservação de comunidades nativas nas florestas da América Latina, África e Sudeste Asiático.
Num dos trechos do documentário, o cantor Bob Geldof fala sobre a vida anterior ao sucesso de Sting, como professor de Geografia, e não consegue ver conexão entre essa fase e a de estrela mundial que se tornou. Para mim, no entanto, há sim uma relação que se pode fazer. E ela está na Geografia. Sting tem uma visão não limitada a um território. Tem um interesse pelo outro. Desde o Police, já trazia o reggae para dentro do rock. Os gêneros musicais, para ele, podem se aproximar, trocar informações e, juntos, criarem novas sonoridades que, separados, não gerariam.
Seu interesse e sua atuação como músico se somam a sua participação como cidadão do mundo. Se a fama lhe permitiu chegar a outros lugares, outras culturas, não se restringe a ser um mero vendedor de canções, mas sim alguém que se importa com os problemas das comunidades que precisam de apoio ou de um porta-voz desse porte. Sting é uma prova de que há muito potencial tanto estético como político a ser expandido dentro da canção, da música, do universo mesmo das celebridades.
Quando eu lecionava no Colégio João XXIII, em Porto Alegre, como professor de Língua Portuguesa, havia um colega, professor de Geografia, o Élvio. Ele tinha uma aula inicial para os alunos de sétima série que ficou famosa. Mostrava qual a relação entre o cheeseburguer e a Geografia. Não por acaso, foi o Élvio o primeiro a me apresentar um disco de Chet Baker, sonoridade que alargou minhas fronteiras musicais.
Termino essa coluna com um poema que escrevi quando vi uma fotos do Chet Baker numa reportagem e que foi publicado no meu livro Quase eu, em 1992.
o artista envelheceu
fotos denunciam a diferença
espelhos cruéis
sua arte não
infensa aos efeitos do tempo
criou suas próprias leis