O termo sustentabilidade surgiu para chamar a atenção da insustentabilidade de algumas práticas e do modo de produção que estavam ocorrendo. Por um período da história se acreditou que os rios levariam embora todo o lixo jogado nas suas águas, que as florestas eram tão grandes que não se conseguiria acabar com elas e que o ar seria capaz de dissipar toda a poluição que fosse emitida. Acreditava-se que a poluição era sinônimo de progresso. As cidades com mais chaminés, com mais fumaça no ar, eram as cidades mais ricas, mas a natureza não demorou para apresentar a conta. Logo ficou evidente que muitas doenças eram causadas pela poluição e os países desenvolvidos aprovaram leis de controle ambiental e criaram mecanismos de controle.
O Triple Botton Line é o conceito mais utilizado para definir sustentabilidade e fala no equilíbrio do tripé Planeta-Pessoas-Lucro. Imagine uma mesa com três pernas e uma bola em cima do tampo. Se uma das pernas for maior ou menor que as demais, a bola irá rolar e cair da mesa. A sustentabilidade está no equilíbrio das três variáveis, que podem ser traduzidas como Social-Ambiental-Econômico. A defesa das questões sociais sempre foi associada aos partidos de esquerda e as questões econômicas aos de direita. No passado, a terceira perna dessa mesa, a variável ambiental, era vista como de interesse público, nem de direita e nem de esquerda. Por que então, quem hoje defende a preservação da natureza é chamado de esquerda?
Vejamos o que ocorreu nas últimas décadas. Na década de 70 existiam os movimentos pacifistas e os movimentos ambientalistas, que na década de 80 deram origem aos partidos verdes na Europa. Eles deixavam claro: “nem capitalismo, nem socialismo, somos verdes”, e se apresentavam como a terceira via. No Brasil o Partido Verde (PV) surgiu sob lideranças como Fernando Gabeira, Alfredo Sirkis, Carlos Minc, Lucélia Santos que defendiam bandeiras ecológicas. Com o passar do tempo o PV foi assumindo combate ao racismo, à homofobia, ao machismo e passou a ser considerado de esquerda. Em 2010, o PV lançou Marina Silva como candidata a Presidenta e recebeu 19,6 milhões de votos. Nos últimos anos, o PV ora flerta com a esquerda, ora com a direita. Em 2013, Marina fundou o Partido Rede Sustentabilidade. Movimentos ambientalistas, como a AGAPAN no RS, foram mais eficientes do que os partidos verdes na aprovação de leis de proteção ambiental, como a aprovação da primeira lei estadual dos agrotóxicos no país.
Nos governos do PT houve avanços na demarcação de terras indígenas e redução do desmatamento da Amazônia, mas o governo Dilma sofreu duras críticas dos movimentos ambientalistas pela construção da Usina de Belo Monte na Amazônia, terceira maior hidroelétrica do planeta. Ao redor do mundo, as questões ambientais foram “maltratadas” por governos de direita e de esquerda. Porém, no século XXI ocorreram avanços em vários países e, mais recentemente, um retrocesso no Brasil. O Ministério do Meio Ambiente no governo Bolsonaro se transformou no inimigo da preservação ambiental. O Ministro Ricardo Salles sugeriu aproveitar que as atenções da imprensa estavam voltadas para a COVID-19 e “passar a boiada”, ou seja, “flexibilizar” as regras de proteção ambiental e para uso da área de agricultura. No governo Bolsonaro foi desmontado o sistema de fiscalização ambiental e demitidos fiscais que cumpriam o seu papel. Segundo denúncia do Ministério Público do Trabalho, 1.629 agrotóxicos proibidos em outros países foram liberados no Brasil. Em relação à Amazônia, Bolsonaro continua afirmando que ela continua intacta como na época em que Cabral chegou ao Brasil. Nem as fotos de satélite do INPE e da NASA são suficientes para convencê-lo do aumento expressivo do desmatamento no seu governo.
A defesa do meio ambiente não é uma bandeira da esquerda ou da direita. Infelizmente ainda temos setores empresariais retrógrados que querem extrair o máximo da natureza no menor tempo possível, mesmo que isto a leve à exaustão. Os representantes do agronegócio mais esclarecidos já perceberam que preservar a Amazônia é a forma de manter o regime das chuvas no centro-oeste, sul e sudeste. Da mesma forma, a população e as indústrias de São Paulo sabem que precisam receber os “rios voadores” que trazem a umidade da Amazônia para ter água nas suas represas.
A sustentabilidade depende de ações individuais e coletivas, mas fundamentalmente de políticas públicas que inibam os desmatamentos, estimulem uma economia de baixo carbono, identifiquem riscos e adotem medidas de mitigação e adaptação às mudanças climáticas, que desenvolvam campanhas de conscientização etc. Cabe a nós exigirmos que o poder público, em todos os níveis, adote tais políticas. Negar ou minimizar os problemas ambientais só nos torna mais vulneráveis. No século XXI, cada vez mais, ser sustentável será o requisito para o sucesso das empresas, o cartão de visita do agronegócio e um atestado de boa conduta para as novas gerações.