Eu sou da época de Sex and the City. Assisti a todos os episódios da série e aos filmes. Me ressenti com tantas intempéries na vida da Carrie que, apesar de ter experimentado um bocado, só quis de verdade o Mr. Big.
Àquela altura, eu não tinha a idade da protagonista e suas amigas e achava o máximo todo aquele vai e vem de uma vida livre das mulheres da série. Cada uma vivendo a sua forma de liberdade (eu achava que era sobre isso).
Ainda mantinha meu lado romântico, torcendo para que ela conseguisse fazer o Mr. Big vê-la e valorizá-la.
Mas muita coisa aconteceu entre aqueles dois e eu nem sabia direito o que era a vida para compreender.
Hoje, na maturidade, assisti Emily em Paris, do mesmo produtor de Sex and the City, e tenho algumas coisas a comentar.
Em primeiro lugar, devo dizer que uso a palavra maturidade muito como sinônimo de alguma autoridade, mas não deixo de confessar que a sinto sim com o peso do etarismo que a sociedade ainda impõe fortemente à Mulher.
Não vejo ainda como dissociar o envelhecer da Mulher ao enfrentamento da sociedade da beleza e da juventude necessárias para o feliz e bom viver feminino.
Tanto esforço para expandir-se, conquistar espaços, lutas pelo reconhecimento de valor e os filmes “A substância” e “Não pisque 2 vezes” ainda demonstram, para mim, que estamos vivendo um novo modelo do Retrato de Dorian Gray, deslocado, na atualidade, para a figura feminina.
Mas nesse feroz mundo, em que não basta mais à Mulher lutar contra o machismo dos homens, pois seu maior inimigo surge entre as mulheres, que estão guerreando entre si próprias e usando a juventude e o sexo como armas, eis que vejo uma luz.
Não diria no fim do túnel, pois ele é longo demais para que enxerguemos algo.
Mas logo ali… em uma das muitas curvas da vida.
Vejo a série Emily em Paris em suas 3ª e 4ª temporadas e minha percepção é a de que, desta vez, as luzes do palco não estão tão acesas para as mulheres de trinta e poucos, que continuam perdidas na sociedade machista, até mesmo quando decidem, como a personagem Camile, deixar, por um tempo, o noivo de lado por uma linda e decidida Mulher.
Nessas duas temporadas, o que vejo e admiro é o protagonismo sem amarras de Sylvie Grateau, a mulher que é sim madura – de idade, mas, muito mais, de espírito e coragem – mas que não traz essa bandeira em nenhum momento como algo que precisa empinar para dizer quem é.
É como se eu estivesse vendo uma Carrie Bradshaw bem mais resolvida, aquela que eu imaginava que ela seria ao final das temporadas, mas que, pelo menos para mim, não foi.
Isso não quer dizer que Sylvie tenha se libertado da forma de amar comum a grande parte dos seres humanos: a de querer alguém com quem compartilhar os bons e os maus momentos.
Mas a mim me parece que, como os franceses, ela sente prazer desde o amuse-bouche até a sobremesa, fazendo questão de ter tempo para refeições completas e complexas. Com direito a vinho e não drinques que mudam com as estações.
Refiro-me sim à personalidade forte o suficiente para querer tudo isso, mas sair vivendo da forma como possível e como ela deseja.
E sendo ela a que faz os Homens com os quais viveu ou está vivendo algo de bom, a quererem por algum instante que ela também queira.
Adoro o gracejo que é o retrato da vida de Emily em Paris e, futuramente, em Roma.
Mas gosto, muito mais, da decisão de ser e fazer o que quer com a vida, de Sylvie.
Sem que sua idade seja, de alguma forma, cartão de visita para o machismo, para o etarismo ou para o desencontro feminino da juventude da beleza.
Mildred Lima Pitman - sou Mulher, Mãe, Advogada. E agora, na maturidade, venho buscando, por meio da escrita, uma melhor versão de mim mesma.
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Foto da Capa: Divulgação / Netflix