Passado o Carnaval, o ano finalmente começou e a chegada de março evidencia o que todos fingimos não ver: daqui a pouco é Natal. De qualquer maneira, não sei como está com o prezado leitor, a querida leitora, mas do lado de cá do meu teclado, enquanto espero a rotina adquirir velocidade de cruzeiro, tenho tido alguma dificuldade para decidir sobre o que falar. Não apenas na coluna, no café com as amigas, no jantar com a família, no bar com o pessoal. Nem vamos entrar no mérito das redes sociais, que daí a coisa desanda mesmo.
Não estou estressada, tampouco tenho mais compromissos de trabalho do que seria prudente assumir – aos 50 anos, aprendi a dizer não e a pedir ajuda! Mesmo assim, ainda não consegui engatar em uma única leitura, fixar a atenção em uma única série de TV, me dispor a assistir ao máximo possível de filmes do Oscar antes da premiação. Também nenhum dos tantos assuntos palpitantes da política nacional e internacional me mobilizou o suficiente para estudar e poder falar a respeito.
Terminado o segundo mês do ano, cogito parar de escrever neste espaço, porque a angústia de não encontrar um tema faz um mal danado para a minha autoestima. Se não consigo desenvolver nem sequer um texto decente uma vez por semana, o que estou fazendo com meus neurônios? Quando comecei a colaborar com a Sler, em outubro de 2022, tinha prometido a mim mesma que preferia parar a fazer a “clássica” coluna da falta de inspiração. A quem eu estava tentando enganar?
Há apenas três meses eu já havia sucumbido e publicado uma coluna sobre a minha falta de foco. Mais uma vez, apelo para a exposição pública de parte do que me ocorreu abordar apenas na última semana para dar uma ideia da algazarra que andam fazendo minhas sinapses, com pseudorreflexões que não valem mais do que um tweet (pelo menos não com o tanto de conhecimento que eu tenho no momento). A elas.
- Há 28 anos, quando meu então futuro marido me convidou para jantar, editor convidar foca para sair não era visto como assédio, mas paquera. Sorte da minha filha.
- Ontem, eu estava grávida. Hoje, a criança está almoçando sozinha com os colegas de escola.
- Quando Nasceu, Onde Surgiu e do que Se Alimenta Entre os Escrevinhadores em Português Essa Mania de Escrever Frases com as Palavras Começando com Letra Maiúscula, Como Se Fôssemos Norte-Americanos?
- Ainda me espanto com adultos que ainda não compreenderam que todos os istas (bolsonaristas, lulistas ou muitoantespelocontrárioistas) NÃO se consideram maus, perversos, egoístas, loucos ou burros? Na cabeça de cada um, estamos sempre do lado certo da história. Ou seja: NADA é simples assim.
- Café instantâneo pra mim sempre foi sinônimo de azia imediata. Até eu descobrir na semana passada o café liofilizado. É um primor? Não. Mas é bebível até sem leite e não dá azia.
- Uma coisa é certa: com as últimas manifestações públicas, povo defensor ferrenho do Lula e do Bolsonaro está com a ginástica mais do que em dia. Haja contorcionismo para defender esses dois.
- Se posicionar sobre questões relevantes é importante. Escolher sempre um lado em detrimento de outro, sem questionamentos, não é coragem, como tantos querem fazer crer. Costuma ser apenas ignorância (ou burrice).
- É plenamente possível condenar os ataques feitos pelas forças militares de Israel a civis palestinos e AO MESMO TEMPO enxergar o absurdo na comparação desses ataques com o Holocausto judeu (mesmo que ele não tenha pronunciado a palavra, apenas descrito o fato) feita pelo presidente brasileiro. Basta respirar e deixar sinapses acontecerem.
Para a próxima semana, peço que me deseje sorte. Ou foco, que já vai ajudar bastante.