Essa é uma época feliz do ano, quando se abre a temporada de praia. Sol e mar é tudo de bom em todos os sentidos. Faz bem pra mente e o corpo. Só de chegar ao litoral já sentimos o cheiro da maresia e passamos a respirar essa névoa fina e úmida, que flutua ao longo da costa, formada por bilhões e bilhões de gotículas de água do mar que sobem ao ar quando uma onda arrebenta na praia. Essa névoa pode atingir uma área de até cinco quilômetros distante do mar e já nos oferece benefícios.
O banho de mar como o conhecemos – modalidade de lazer coletiva, praticada sem restrições e quase sem roupa – data de cerca de cem anos. Mas há pelo menos dois milênios especula-se sobre o poder curativo da água marinha. No século I a.C. Hipócrates já a indicava no tratamento de afecções pruriginosas. O francês René Quinton (1866-192) foi o primeiro estudioso a divulgar alicerces científicos que provaram os bons efeitos da cura pelo mar. Entre os benefícios estão a regeneração do sangue, das glândulas, dos nervos e dos ossos. O contato com a água do mar é ainda anti-inflamatório, bactericida, laxativo e especialmente benéfico aos pacientes com fibromialgia. No início do século XX, o banho de mar terapêutico já estava em voga na Europa, sendo que médicos franceses e alemães o indicavam para tratar escorbuto, icterícia, problemas gastrointestinais e até tuberculose. Observou-se ainda que boiar no mar fazia o sangue refluir dos membros para o abdome, aumentando a oxigenação do cérebro; os íons negativos do ar marinho equilibrariam nossa serotonina, melhorando humor e sono; e o som das ondas alteraria o padrão da atividade cerebral, levando a um relaxamento profundo e, no fim das contas, revigorante. “Tenho certeza de que, se colocássemos uma pessoa para dormir na praia e fizéssemos uma polissonografia (o registro detalhado da atividade elétrica cerebral), veríamos uma sincronização entre as ondas cerebrais e as ondas do mar”, diz o renomado neurocientista Sidarta Ribeiro.
Nós absorvemos os íons e gases da água do mar através das células da nossa pele – e passam a circular no fluido intersticial (sistema de transporte reserva de nutrientes e soluções entre os órgãos, células e vasos capilares). Este nosso meio fisiológico é similar ao meio marinho, com íons de potássio, fosfato, magnésio, sódio, cloreto e bicarbonato em constante troca dentro do corpo; e com a água do mar quando estamos imersos nela. A massagem contínua provocada pelo movimento das ondas, as alterações térmicas e o ar puro do ambiente marinho favorecem a absorção desses elementos básicos, nas proporções exigidas pelas nossas células para se manterem em integridade e equilíbrio, o que torna o banho de mar um método natural de remineralização do organismo.
Outro benefício das regiões litorâneas e próximas do mar é o clima mais ameno, sem grandes variações de temperatura. Há uma baixa amplitude térmica anual e diurna (pouca variação da temperatura ao longo do ano, e entre a temperatura de dia e de noite) e invernos menos rigorosos. Isso porque grandes massas de água possuem a característica de reter o calor dos raios solares por mais tempo do que o solo. Assim como, também, possuem a característica de resfriar mais lentamente. Como a água retém calor por mais tempo que o solo, a temperatura se mantém praticamente constante, pois de dia, enquanto ainda está quente, a água absorve o calor do sol e à noite, quando deveria estar frio, a irradiação lenta do calor absorvido pela massa de água faz com que o ar em torno se aqueça, mantendo a temperatura.
Representando quase 97,5% do total de água existente no planeta, os oceanos formam ambiente propício para a produção de 90% do oxigênio, além de serem habitat de mais de 29% da biodiversidade do planeta. Além de fonte de alimentos, as águas salgadas agrupam milhares de organismos que capturam o carbono e lançam oxigênio na atmosfera, por meio da fotossíntese. Esse fenômeno influi diretamente na diminuição do efeito estufa, que interfere na temperatura da atmosfera. Para se ter uma ideia, um metro quadrado de algas marinhas produz dez vezes mais oxigênio do que um metro quadrado de árvores.
Água e sal
A água do mar é solvente (água) e soluto (sais). Em um quilograma de água do mar, há em média 35 gramas de compostos dissolvidos na forma de íons, os sais inorgânicos. Isso significa que a água do mar é constituída por 96,5% de água pura e 3,5% de sais (predominantemente cloro, sódio, sulfato, magnésio, cálcio, potássio e bicarbonato). Parece pequena a quantidade de sais, mas se retirássemos toda a água pura do oceano, restaria uma camada de 60 metros de altura de sais espalhada pelo assoalho oceânico que cobre cerca de 70% da superfície do planeta. Sua origem: rochas da crosta que se desgastam por erosão, sendo parte desse material transportada para o oceano pelos rios; erupções vulcânicas que libertam substâncias voláteis (tais como dióxido de carbono, cloro e sulfato) para a atmosfera, uma parte das quais é transportada por precipitação diretamente para o oceano ou indiretamente por meio dos rios; erupções vulcânicas submarinas.
Mar chocolate
O mar do Rio Grande do Sul por vezes adquire cor de chocolate graças à proliferação de microalgas com pigmento marrom, do grupo das diatomáceas (Asterionellopsis glacialis). Estas microalgas são fonte de alimento para as marisqueiras e outras aves, assim como para os animais marinhos. A morfologia ampla e retilínea do litoral gaúcho, inclinada ao eixo predominante de ventos, também causa uma formação de ondas bem peculiar, diferente do estado vizinho de Santa Catarina, que tem muitas enseadas.
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Foto da Capa: Pixabay