A Revista britânica The Economist publicou, na quinta-feira da semana passada, a capa da sua nova edição com a imagem do presidente Jair Bolsonaro diante da sombra do ex-mandatário dos Estados Unidos Donald Trump. A montagem acompanha a manchete “O homem que queria ser Trump” e o subtítulo “Bolsonaro prepara a sua Grande Mentira no Brasil”. A farsa se refere à narrativa construída pelo americano quando afirmou que venceu Joe Biden em 2020, não assumindo a própria derrota.
Ministros das cortes eleitorais avaliam que o recuo do presidente Bolsonaro neste dia sete constitui mero cálculo eleitoral. Entendem que o centrão estima a perda de votos moderados. Ainda assim, não acreditam em armistício e não descartam novos ataques se, refeitas as contas, o presidente voltar a acreditar que a postura beligerante possa render frutos eleitorais. A presença do empresário Luciano Hang, investigado pelo STF, entre as autoridades de destaque na tribuna, foi interpretada, inclusive, como uma provocação. O “velho da Havan” teve mais destaque no palanque presidencial do que o presidente de Portugal, Marcelo Rebelo, que veio homenagear o Brasil no bicentenário da independência.
Ku Klux Klan
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) comparou os atos de seu oponente a uma reunião da Ku Klux Klan, o grupo americano de supremacistas brancos que prega a inferioridade do povo negro. “O ato do Bolsonaro parecia uma reunião da Ku Klux Klan, só faltou o capuz”, afirmou Lula em comício na Baixada Fluminense um dia depois dos atos. Para o petista, não havia negros, pardos, pobres e trabalhadores nos eventos que reuniram milhares de brasileiros.
“O artista principal era o velho da Havan”, afirmou acrescentando que Hang seria como um “Louro José”, o papagaio que auxilia a apresentadora Ana Maria Braga na televisão. O petista afirmou ainda que seu adversário “roubou do povo brasileiro” o Dia da Independência, com comemorações que extrapolam a festa cívica e resvalam para o palanque eleitoral. “Ele se apoderou da forma mais vergonhosa de um dia que é de 215 milhões de brasileiros, e não dele.”
Alguns assessores apressam-se em convencer o ex-presidente a desculpar-se pela citação preconceituosa que utilizou.
Desfaçatez
Um dia depois dos atos, Bolsonaro chegou a ser singelo ao rebater as acusações de uso eleitoral das comemorações e disse que foi uma iniciativa da população, convocada por seus apoiadores. E questionou a ausência de outros candidatos nas manifestações.
– Estão me acusando do quê? Eu estive no Sete de Setembro aqui em Brasília. Acabou o desfile cívico-militar, tirei a faixa e fui para dentro do povo. Se qualquer outro candidato quisesse comparecer ali, não teria problema nenhum. Não era um ato meu, era um ato da população, a qual nós devemos lealdade.
Um troco?
O Congresso Nacional realizou no dia seguinte ao da Independência uma sessão solene de celebração dos 200 anos da Independência. Conduzida pelo presidente do Senado e chefe do Legislativo, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), a cerimônia teve participação do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do presidente do Supremo, Luiz Fux. Convidado, Jair Bolsonaro não foi. A sessão ocorreu um dia depois das manifestações de apoio ao presidente na quarta (7), às quais as demais autoridades também não compareceram. “O caso aumenta a tensão a menos de um mês das eleições, em que alguns observadores chamam do começo da temporada do ‘vale tudo”. Pacheco explicou que notou o caráter eleitoral da comemoração e evitou misturar os dois papéis, de presidente com o do candidato.