Europa é sinônimo de riqueza. Decadente ou não, o norte global construiu a noção de branquitude supremacista que vive até hoje na distinção dos passaportes conectando suas ancestralidades e descendência do processo de colonização. É só abrir o insta e ver a galera em busca de seu passaporte europeu. Fato.
Mas também a Europa é lugar de origem de pensadores, intelectuais e artistas que criaram uma contra cultura questionando o sistema vigente.
Europa tem uma cultura riquíssima e em divergências e convergências.
Europa é sinônimo de luxo, de destinos caros, de euro, de quem converte não se diverte.
Em cada canto da Europa um perfil… Paris é a cidade luz. A mais visitada do mundo. Sinônimo da nobreza suntuosa, do iluminismo, mas também da Revolução Francesa, de Maria Antonieta mandando dar brioches aos pobres, mas aí galera surtou e guilhotinou a rainha. Fato também.
Paris é sinônimo de luxo, boêmia, política, cultura, história, moda. Velha ou não. Ainda não tiraram o posto da cidade referência da velha Europa como o lugar onde as pessoas iam e vão para viver o melhor da vida. Tudo isto e muito mais você acessa no google, nos livros, nos v-logs dentro e fora da internet.
Quando comecei a conversar sobre o meu sonho, sobre viver Paris, comecei a perceber algumas pessoas (brancas) ligadas as questões decoloniais incomodadas.
Questionando o destino. Dizendo aff, mas isto já era. O que importa é o sul global. Porém, a mesma pessoa estudou e viveu lá. Outros não chegavam a tal sofisticação de discurso, mas o silencia julgador do tipo: “Aff deslumbrada…” ou então é “caro demais”. Sendo que eu vi que há poucos meses a pessoa esteve lá. E quem disse que não posso pagar? Olha a visão da pessoa preta sem dinheiro. Fato.
Vamos sair da espuma e pensar juntos: o racismo estrutural no Brasil é formado por vieses inconscientes que ativam elementos como classe, pertencimento, lugar de subalternidade. Então, seu papel como pessoa negra é servir, ainda mesmo que seja na luta antirracista. Você serve com sua vida, experiências e saberes para educar, para militar, para estar em vigilância 24/7.
Sua vida ainda não é livre. Para simplesmente vivê-la seja de forma deslumbrada ou não. Sua vida não é sua, ainda mais como mulher preta se não for cuidando dos outros, servindo os outros.
Já parou para pensar o quanto de revolucionário tem estas quebras de acesso? De conseguir viabilizar uma viagem? Durante estes quase 45 dias, ao conversar sobre o processo, eu já quebrei um padrão classista, que é naturalizar o acesso. Para pessoas pretas viajar para a Europa é uma revolução. Ter um passaporte. Conseguir conhecer o mundo dos colonizadores. E também viver as diferenças e uma história desta contracultura. Entender a suntuosidade que os fizeram e faz até hoje se entenderem acima de tudo e todos. Isto é cultura. Educação. Conteúdo. Absorver força para discutir e atuar em pé de igualdade.
Somos educados por uma cultura branca: português, inglês, francês, alemão, italiano… e a maioria de nós não pode colocar os pés nos países de origem dos nossos colonizadores. Ao escravizarem nossos ancestrais, vocês nos trouxeram para o seu mundo. Nos colocaram em seus museus. Vocês viram o vídeo da visita do rei africano no museus de Berlim? Ele sentou no trono do seu bisavô.
Vocês nos trouxeram à força para o seu mundo. E nós, descendentes, já pertencemos a ele. Temos direito a acesso, dinheiro, poder. É para isto que lutamos. E não para ficarmos eternamente deslocados.
Uma mulher preta merece luxo, prazer e PAZ. Eu achei que estava entendendo as mensagens subliminares de maneira equivocada até ver um story de uma mulher afro-indígena que admiro muito, e é uma das expoentes em projetos de impacto no Brasil, que relatou com todas as letras a perda de seguidores em razão de ela estra vivendo e curtindo na Europa.
Este sinal me fez escrever esta coluna e alertar que, mesmo você sendo aliado, você pode errar.
Nossas vidas não estão a serviço da sua causa. Nossas vidas estão a serviço das nossas vidas.
Por isto, um dos meus maiores prazeres será gravar o áudio que rola no Instagram ao entrar no Palais de Versailles: “This is Versailles, Madame.”