Você aí do outro lado que me lê, já parou para pensar em tudo que implica estar lendo esse texto agora? Implica coisas básicas como o fato que você pode ler, de ter acesso ao texto entre muitas outras coisas. Implica também você ter tempo para ler, e não só isso, implica você ter escolhido usar seu tempo para ler esse texto.
Tem certeza que deseja continuar com essa leitura? Talvez você poderia usar seu tempo para tomar sol enquanto come uma mexerica (ou como se diga o nome dessa fruta na sua cidade). Se hoje não é um dia ensolarado, poderia fazer um chá e pensar na morte da bezerra. Se a produtividade te assola e você precisa se sentir produtivo, poderia usar seu tempo para pensar no existencialismo e escrever um texto e publicá-lo na Sler.
Enfim, se você continua aqui é porque você não tem nada melhor para fazer! Então vamos juntos mal gastar nosso tempo falando sobre o tempo.
Já dizia o personagem Super San: Time is money, oh yeah. Ao lado do Chapolin Colorado, nosso herói latino-americano (uma espécie de Macunaíma mexicano), o personagem Super San (ilustração da capa) era uma linda parodia dos super-heróis do país vizinho, os Estados Unidos. Na visão de Super San, tempo é dinheiro, uma visão bastante mercantilista, utilitarista e muitos outros “istas”.
Em certo ponto ele estava certo, nós vendemos nosso tempo em troca de salário. Se tiver sorte (porque afinal não existe meritocracia), você venderá 8 horas diárias do seu dia em troca de um valor monetário que te dê condições de viver feliz e contente e se tiver mais sorte ainda, de poder ter certa perspectiva em um futuro cada vez mais incerto.
Mas quando não estamos trabalhando, ou fazendo qualquer outra atividade que não seja de subsistência, o que fazemos com nosso tempo? Ou, o que podemos fazer com nosso tempo? Quais são as opções disponíveis?
Existe algo, hoje, que você faça que te realize como ser humano? Quais são seus sonhos? Você está realizando algum deles ou tem possibilidade de realizá-los? E os seus desejos? Qual é a probabilidade é que você esteja fazendo algo imposto pela sua família e/ou sociedade? Já parou para pensar no que você está fazendo hoje e não tem nada a ver com você? Qual é o seu propósito de vida? Aproveita agora, para e pensa. É sua última chance de abandonar essa leitura!
Já que você continua aqui, sinto no dever de terminar esse texto com alguma coisa que possa chegar a ser útil além desse grande divague existencial. Então vamos com um poema do Mario Quintana:
Libertação
A morte é a libertação total:
A morte é quando a gente pode, afinal,
Estar deitado de sapatos…
Conselho final, não espere a morte para deitar-se de sapato. Não morra em vida. Busque sua liberdade. Se olhe no espelho e veja quem aparece do outro lado. Encare essa imagem até que haja resposta. O tempo está passando e a única certeza é que isso tem um fim. Como esse texto.
*Carolina Murgi. Sou contadora, no trabalho conto números dos outros, aqui conto minhas histórias.