Você viu? Para evitar repetição da tragédia da Praça dos Três Poderes, na semana passada, vão restringir o acesso e a circulação de pessoas. Mas o que aconteceu na Praça dos Três Poderes na semana passada?
Foi suicídio? Foi parte de mais uma ameaça de golpe da extrema direita? O Tio França foi um lobo solitário? Ou um bobo solidário com os radicais que o fizeram de bucha de canhão em mais uma tentativa de assustar autoridades e fragilizar instituições?
Cada um terá a sua resposta para essas perguntas, que ainda vão ecoar por aí durante algum tempo. Para a extrema direita atingida nos dois pés por estilhaços das bombas do Francisco Wanderley, ele é um simples desequilibrado que deu cabo própria vida.
Para os direitistas, a atitude do chaveiro catarinense não pode ser usada para atrapalhar a aprovação de anistia para todos os condenados pelo mais escancarado atentado contra a nossa anda nem quarentona democracia.
Para os democratas – e para quem quer que goste da democracia como ela nasceu para ser – o Tio França é produto do indisfarçado discurso de ódio, da desinformação, das mentiras impunemente disseminadas nas redes sociais.
Veja, o homem bomba tupiniquim pesquisava logísticas de atentados em plataformas na Internet, espalhava ameaças em aplicativos de trocas de mensagens. E aí é que está o perigo.
É tanta barbaridade circulando nas redes sociais, é tanta gente dizendo o que quer e reclamando quando ouve o que não quer, é tanta gente incitando crimes, que ninguém ligou para o simples chaveiro, ex-candidato a vereador pelo PL na pacata Rio Sul, que ameaçava autoridades e tinha montado um pequeno arsenal a 30 quilômetros da Praça dos Três Poderes, a cabine de comando do avião desenhado por Lúcio Costa para sediar a capital do Brasil.
Francisco Wanderley morreu ali, aos pés dos Dois Candangos, a escultura de Bruno Giorgio que enfeita a Praça onde está a declaração de fé de Juscelino Kubitschek no futuro do país: “Lanço os olhos, mais uma vez, sobre o amanhã do meu país e antevejo esta alvorada com fé inquebrantável e uma confiança sem limites no seu grande destino”.
Ampla, aberta, acessível, a Praça dos Três Poderes foi cercada de grades depois dos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023. Pouco menos de um mês depois, o presidente Lula, parlamentares e ministros do Supremo retiraram as grandes. O coração da democracia estava salvo.
Pois estão falando em repor as grades. Será que elas impediriam Tio França de cometer o desatino que ele cometeu? O chaveiro, horas antes do atentado, esteve na Câmara dos Deputados e no STF. Para prevenir situações como essa, vão restringir os acessos aos dois prédios.
Mas é isso – rigor nas revistas nas portas dos prédios, restrição à circulação de pessoas na praça – que vai impedir a contaminação de outras cabeças pelo vírus do golpismo que circula em boa parte do organismo político?
A regulamentação das redes sociais – escondida em alguma gaveta da Câmara dos Deputados, mesmo depois de ter sido aprovado regime de urgência para sua votação – com certeza seria mais efetiva do que aparelhos de raio-x nas portarias da Praça dos Três Poderes.
A regulamentação das redes, sim, funcionaria como vacina preventiva contra novos tios Franças e em atos como os de 8 de janeiro de 2023. Vamos nessa, senhores deputados, aprovem a regulamentação das redes. Ajudem a preservar vidas e a democracia, que lhes garante os empregos…
Todos os textos de Fernando Guedes estão AQUI.
Foto da Capa: Fábio Rodrigues Pozzebom / Agência Brasil