Um desembargador do Paraná, num surto de sincericídio egomaníaco masculino, disse que “[…] quem está correndo atrás de homens são as mulheres, porque não tem homem, sabe? […] essa é a realidade (sic) as mulheres estão loucas atrás dos homens, porque são muito poucos sabe?”. Sim, o magistrado, uma vez condenado pelo crime de lesão corporal em contexto de violência doméstica, disse isso. Numa audiência de assédio. De uma aluna de 12 anos contra um professor. Pensa!
Mas não é que ele está certíssimo? Andamos sim, sempre atrás dos homens. Nossa vida de mulher é viver correndo atrás deles, seja pra implorar para “ajudarem” nas tarefas domésticas, recolher a roupa jogada no chão e a toalha molhada em cima da cama, ou pra mostrar que limpar e secar a pia faz parte de lavar a louça. Tudo isso depois de muito correr atrás deles pra fazerem alguma pequena parte do serviço doméstico que nós, mesmo trabalhando fora ou cuidando dos filhos, também fazemos.
Vivo correndo atrás de homem pra dar vida à minha voz quando constantemente não sou ouvida, quando falam em cima de mim, fingem que não escutam minha opinião e depois usam minhas ideias como se fossem suas. Às vezes educadamente, outras escancaradamente. Desde o meu primeiro emprego passo por isso, e duvido que você já não passou.
Andamos loucas atrás de homens que não pagam pensão, não reconhecem os filhos, dão desculpas para não buscar no final de semana. Por outro lado, ficamos loucas fugindo dos homens que intimidam, espancam e matam.
Me deixa louca cada homem que finge interesse por uma mulher apenas para colocar o nome dela numa lista de conquistas e usar a atenção recebida pra inflar o ego. Quanto ego frágil para o sexo frágil ter que correr atrás, né?
Como mulher, convivo e convivi com muitos homens na vida. Alguns me apoiaram e ainda apoiam, e aqui um especial agradecimento ao meu avô, meus tios, meu mano e meu atual e ex-maridos. Outros me puxaram o tapete, me jogaram aos leões e me usaram. Já me apaixonei por um traste. Já fiz o mesmo trabalho que colegas homens ganhando menos. Já servi café em reunião onde eu tinha criado o conteúdo e não levei o crédito. Já baixei a cabeça e me calei muitas vezes na vida para homens sem H. Mas nunca parei de me questionar e, depois, me rebelar. E muitas vezes em que usei minha voz para gritar, fui chamada de louca.
Não digo que todos os homens são assim e nem que todas as mulheres são vítimas, porque todos nós, seres humaninhos, temos nossos defeitos e fraquezas. Mas quando é uma mulher, ela é louca ou vadia, e quando é um homem, é só um menino que ainda não amadureceu ou um pegador. As estatísticas são fortes e tem um lado bem mais fraco onde essa corda quase sempre arrebenta.
Pensando bem, não é homem que tá faltando. O que falta é uma sociedade com homens que entendam que somos iguais em direitos e deveres, não onde os deveres são das mulheres e os direitos dos homens conforme o que convém naquela situação. O que falta mesmo não é homem, o que falta é hombridade, pra muito magistrado, homem e ser humano que tem por aí.
Foto da Capa: Freepik / Gerada por IA
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