Antes de mais nada, alguns avisos:
Democratizar a informação é uma bandeira que faço questão de erguer.
A internet está a serviço desta democratização e eu aplaudo.
Sempre vou defender o mercado de trabalho dos jornalistas, seja nas grandes redações, assessorias de comunicação, agências de produção de conteúdo, etc., etc., etc. Mais do que defender, acho fundamental valorizar o trabalho dos profissionais, motivo deste texto.
Da mesma forma, defendo o papel das fontes, que têm muito para compartilhar. Mas como fontes.
Consumo informações produzidas por muita gente boa que não é jornalista, mas que não abre mão de uma equipe que tenha, pelo menos, um jornalista para dar assessoria, traçar estratégias, produzir conteúdo.
Este texto não é dirigido aos influencers digitais, muitos dos quais fazem excelente trabalho e sabem muito de comunicação. Se refere ao conjunto da sociedade que, de repente, decidiu atuar, em paralelo a sua profissão, como jornalista ou editor.
E não, não acredito que todo mundo possa se autoproclamar jornalista ou produtor de conteúdo.
Dito isso, quero me apresentar pra quem não me conhece. Sou jornalista formada pela PUCRS, sempre trabalhei na área da Comunicação Corporativa, tenho uma PJ – MS Comunicação & Conteúdo – e, sim, tenho muitos anos de formada. Minha geração foi formada para trabalhar em redações, as assessorias de imprensa não eram expressivas e na época chamadas de “chapa branca”. Eu fui para esta área por conta do meu primeiro emprego e por uma veia empreendedora que sempre tive. A experiência na Editora Intermédio, que editava jornais e revistas de empresas, jogou luz sobre um caminho profissional que eu poderia seguir, sem depender de um emprego nas redações que sempre foi raro e mal pago. E assim comecei, abri minha empresa, tive bastante gente trabalhando junto por um tempo e depois optei por um formato home office e parcerias, sem precisar de uma estrutura inchada e onerosa.
Tudo isso pra situar que, naquela época, qualquer publicação empresarial e mesmo veículos locais precisavam contar com um jornalista responsável. Com o tempo, e o surgimento da internet, os impressos perderam terreno, as publicações passaram a ser digitais e em seguida o nosso diploma literalmente foi pro lixo. Sim, pra ser jornalista não era mais preciso ter diploma. Você, que me lê, e não é jornalista, consegue ter a dimensão do impacto desta realidade para quem por quatro anos cursou uma faculdade? Foi tudo um ledo engano, nada daquilo era importante, pagamos uma PUC pra nada? A quem interessa este desprestígio? Quem se beneficia com este desmonte?
O fato é que se a profissão não era bem remunerada, com a desregulamentação ficou no limbo. Em paralelo, as grandes redes de comunicação ampliavam sua presença da vida das pessoas, só mais tarde ameaçadas com as redes sociais e o digital como um todo. Foi aí que todo mundo descobriu que podia noticiar, reportar, entrevistar, o que faz bem pro ego e pra aquela sensação de importância, visibilidade e minutos de fama. De fato tem muita gente com informação relevante e que, obviamente, temos o máximo interesse de conhecer e compartilhar. A informação, como já disse, deve ser democrática.
O que me causa desconforto é ver tantos profissionais liberais – sim, são os que mais têm se exposto – acreditando que para entrevistar, reportar, produzir conteúdo e afins não precisa ser jornalista, nem contratar algum. Quer dizer, será que os médicos sabem se comunicar bem com sua audiência, será que entendem de estratégia e planejamento de comunicação? Será que não seria muito mais eficiente contarem com a assessoria de um profissional formado? Ah, mas é que tem que investir, né? Ah, sim, tem que investir, como investimos nos médicos para nos tratarmos, nos medicamentos que prescrevem e que não nos sentimos à vontade de dizer o que deve ou não ser feito, até porque não cursamos medicina. Que os médicos não me levem a mal, trabalhei com muitos durante os 13 anos que atendi o Hospital Moinhos de Vento e outros vários serviços médicos e sempre tive um bom relacionamento. Os tempos eram outros, é verdade. Eu fazia a revista do Hospital, entrevistava os médicos e traduzia toda aquela informação para os leigos. Não tínhamos redes sociais, era cada qual no seu quadrado.
Pois antes que me acusem de ser uma velha que não aceita a evolução dos tempos, garanto que aceito algumas, desde que sejam justas. E isso passa, fundamentalmente, pelo resgate da obrigatoriedade do diploma, que baliza todo este desmonte. Acho perfeitamente viável e muito interessante seguirmos vivendo esse mundo com informação abundante – as vezes over, é verdade – , mas que nos conecta com o conhecimento, o que sempre será bem-vindo.
Agora, se eu não posso dar uma receita médica – e isso não se discute – deixem a comunicação com quem estudou, porque isso é técnica, conhecimento, experiência. E sigam contribuindo como fontes, jogando luz na informação que constrói mundos melhores.
E nem vou falar sobre a importância dos jornalistas no combate às fake News, porque ficaria ainda mais longo este texto que nem sei quantos vão ler. Tem isso também, as pessoas não gostam mais de textos longos….
Marta Regina Schlichting é jornalista com Pós-Graduação em Comunicação e Saúde e Gestão do Esporte. Sempre atuou na área da comunicação corporativa, produzindo conteúdo para diferentes plataformas, assessoria de imprensa, relacionamento com influenciadores e planejamento estratégico de comunicação. Está à frente da MS Comunicação & Conteúdo desde 1986.